Sair da Introversão para a Missão

(Pe. Jerónimo Nunes, Missionário da Boa Nova) – O continente que, durante séculos, recebeu missionários acorda para a missão. O 6º Congresso Americano Missionário (CAM6) reuniu, entre 19 e 24 de novembro, missionários e missionárias de 42 países de toda a América, na ilha do Encantamento, em Porto Rico. O CAM6 contou com 1.500 participantes e quase 1.000 voluntários. Resumimos, neste texto, as conclusões do Congresso.

O CAM6 aconteceu na ilha do Encantamento, em Porto Rico, convidando todos a sair da introversão para a missão. Foto: DR

“NA FORÇA DO ESPÍRITO, TESTEMUNHAS DE CRISTO”

Este CAM6 foi uma festa e um processo de reflexão sinodal construído sobre três grandes eixos temáticos: 

  1. Impulsionados pelo Espírito,
  2. Testemunhas de Cristo,
  3. Até os confins da terra.

Cada manhã tinha uma apresentação e um testemunho missionário, uma espécie de provocação feita pelas experiências missionárias dos que testemunhavam. As tardes permitiram compartilhar em grupos os desafios da realidade missionária do continente e buscar propostas para o testemunho interno e além-fronteiras. A presença animada dos jovens, as apresentações folclóricas locais, a acolhimento nas diferentes casas e centros, as experiências missionárias nas periferias urbanas e rurais das dioceses e os encontros culturais complementaram esse profundo acontecimento eclesial.

RESTISTÊNCIA À MISSÃO

Enviamos missionários, mas não na proporção em que a nossa resposta americana era esperada. A causa maior é a resistência à missão. Temos de pedir perdão aos nossos irmãos e irmãs mais pobres que ainda estão à espera que a mensagem libertadora do Evangelho chegue aos confins da terra.

É importante descobrir as causas dessa resistência: a introversão eclesial que nos faz olhar só para as realidades internas; a falta de gratuidade para com os missionários ad gentes (para os povos e nações); A falta de formação missiológica nas igrejas locais; a falta de meios financeiros e de recursos humanos para apoiar a dimensão missionária.

Por outro lado, o processo missionário exige:

Missa de abertura do CAM6, realizado na diocese de Ponce, em Porto Rico. Foto: DR

– Aprender a dar para além da nossa pobreza;

– Conhecer os missionários e missionárias, por comunicação próxima e apoio longínquo;

– Tornar conhecidos os centros de formação missionária, promovê-los, convidar patrocinadores e criar redes internacionais de cooperação dando o mais amplo acesso a todo o povo de Deus. Cada Igreja local, deve enfatizar a formação missionária atualizada e contínua para todo o corpo da Igreja.

– A cooperação missionária não pode ser reduzida a um único dia anual. Alimentar várias iniciativas para um maior apoio concreto. Promover participação mais ativa dos leigos e das famílias na organização missionária e, sobretudo, reconhecer o lugar vital dos jovens nessa realidade.

QUEBRAR O ESPELHO DA AUTORREFERENCIALIDADE

Vivemos num mundo fragmentado e ferido, onde a maior parte das pessoas não é cristã. Mas, estamos unidos na esperança, porque o amor de Deus foi derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado e nos impulsiona a ser testemunhas.

O encontro com Jesus é o caminho para a transformação, pessoal e social. Cristo é o caminho proposto pelo Pai para a plenitude de toda experiência religiosa e espiritual. Sua proclamação não é “invasão” ou colonialismo, mas luz e vida para as preocupações mais profundas de todo ser vivo. Ele é a Vida que atrai os seres vivos.

A missão nos faz, nos molda, nos chama à conversão integral. Não é uma opção entre outras, mas a primeira e principal opção. Todos os recursos devem ser direcionados para a realização da missão. Somos chamados a tocar Cristo na carne dos nossos irmãos e irmãs, especialmente nos mais pobres, marginalizados e excluídos. Respondemos com a cooperação missionária, que convida a construir redes com seus respectivos “nós” e interações. 

CAMINHOS A SEGUIR

– Sair do medo e indiferença em relação à missão e à vida dos irmãos e irmãs mais pobres.

– Sair da própria zona de conforto pessoal e pastoral.

– Buscar um método que integre as diferenças e as experiências dos fiéis: uma arte que consiga moldar a beleza criativa como um mosaico de diferenças na busca dum objetivo compartilhado na relação mais íntima da oração;

– Buscar convergências: ad gentes (para os povos), inter gentes (entre os povos), cum gentibus (com os povos), omnes gentes (todos os povos) / omnes creaturas (todas as criaturas);

– Insistir em “ir”, a Igreja está sempre “saindo” para encontrar, para estar “com”, para integrar e aprender com os “outros mundos”, numa chave relacional dinâmica; saindo para todos e para tudo, num compromisso maior com a ecologia integral; 

– Modelo missionário por atração, baseado na presença, no acompanhamento, na proximidade, no diálogo, no reconhecimento e na valorização do outro. A missão vive do relacionamento.

– Unir países com o poder do Espírito, para sermos testemunhas de Cristo!