
(P. Giuseppe Pizzoli, Director Geral da Fundação Missio) – Vivemos este Dia de Oração e Jejum em memória dos Missionários Mártires no contexto do Jubileu que o Papa Francisco quis dedicar ao tema da esperança: “Peregrinos da Esperança”.
Há uma relação vital entre o tema do “martírio” e o tema da “esperança”: podemos dizer, sem sombra de dúvida, que não é possível pensar o martírio sem que ele é sustentado pela força vital da Esperança.
Já no relato dos Actos dos Apóstolos que descreve as atitudes do primeiro mártir, Santo Estêvão (Act 7,55-60), percebemos a serenidade com que o diácono Estêvão enfrenta o martírio: ele não aparece simplesmente como vítima da perseguição. A sua serenidade é fruto de uma esperança inabalável em algo maior, numa vida que vai para além da morte, porque a morte não tem a vitória final (1 Cor 15,54-55).
O olhar de Estêvão para o céu, quando é atingido pelas pedras, é a manifestação concreta dessa esperança em Cristo, o vencedor; uma esperança tão grande que lhe permite imitar o Mestre também na oração confiante e no perdão dos seus perseguidores.
O próprio Jesus tinha preparado os seus discípulos para a perseguição, não lhes escondendo o cansaço da missão. Já nas instruções do primeiro mandato missionário (Mt 10) Ele disse-lhes: “Eis que vos envio como ovelhas para o meio de lobos… Cuidado com os homens, porque eles vos entregarão aos tribunais e vos açoitarão nas suas sinagogas; e sereis levados à presença dos governadores e dos reis por minha causa, para lhes dar testemunho a eles e aos pagãos”. (vv. 16-18); e, mais claramente ainda, diz: “E não tenhais medo daqueles que matam o corpo, mas não podem matar a alma” (v. 28).
A perseguição é tão inevitável que Jesus até a incluiu nas bem-aventuranças: “Bem-aventurados sereis quando vos insultarem, vos perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por minha causa” (Mt 5,11). E imediatamente Jesus acrescenta que essa bem-aventurança só é possível se for apoiada pela esperança, expressa no versículo seguinte: “Alegrai-vos e exultai, porque é grande a vossa recompensa nos céus”. (v. 12).
A coragem, a capacidade e a força para enfrentar a perseguição – e a sua consequência extrema que consiste no martírio – são virtudes que fazem parte da identidade e da vida quotidiana dos discípulos do Senhor e devem ser assumidas conscientemente, não só porque a perseguição parece inevitável, mas também porque representam o caminho para tornar efetivo o testemunho da própria fé.
Manter viva a Esperança é, pois, o princípio vital que sustenta a missão dos discípulos mesmo nos momentos mais sombrios e nas situações de maior adversidade, temperando o seu carácter e tornando eficaz o seu testemunho.
S. Paulo, na sua carta aos Romanos, sublinha que o sofrimento produz a perseverança, a perseverança um carácter aprovado, e o carácter aprovado conduz à esperança: “Nós vangloriamo-nos mesmo na tribulação, sabendo que a tribulação produz a paciência, a paciência uma virtude provada, e a virtude provada a esperança. Assim, a esperança não desilude, porque o amor de Deus foi derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo. “Ide e convidai” é o tema deste 33º DIA DE ORAÇÃO E DE JEJUM EM MEMÓRIA DOS MISSIONÁRIOS MÁRTIRES 2025. (Rm 5,3-5). Este ciclo evidencia como o martírio pode ser visto não só como um fim, mas como um meio através do qual a esperança se reforça e se manifesta.
O mártir, movido pela esperança, não se limita a sofrer a morte, mas transforma-a num testemunho poderoso, capaz de inspirar coragem, resiliência e fé.

O martírio, portanto, não é apenas um sacrifício pessoal, mas um testemunho para os outros crentes. O mártir torna-se um símbolo de esperança para toda a comunidade. Pensemos no exemplo da figura de S. Óscar Romero: pensavam que estavam a calar uma voz incómoda e, em vez disso, ele tornou-se um símbolo duradouro da luta por ideais maiores de e de solidariedade para com os mais pobres, inspirando assim muitas outras pessoas, grupos e movimentos no seu empenhamento pela justiça e pela liberdade. Num certo sentido, podemos dizer que o martírio, vivido e sustentado pela esperança, torna-se ele próprio um gerador de esperança.
Deixemo-nos iluminar pelos mártires de ontem e de hoje: eles abrem-nos à esperança viva na promessa do Senhor expressa em Apocalipse 2,10: “Sê fiel até à morte e dar-te-ei a coroa da vida”.


