(Fabiano Sakalukango, Missionário da Boa Nova) – Fabiano Sakalukango oferece-nos a sua visão sobre a sua pátria, no cinquentenário da sua independência. Este jovem missionário da Boa Nova vê um país cheio de riquezas, onde, porém, os bens são injustamente repartidos. A desigualdade e a injustiça social são fonte de conflitualidade, deixando a maioria, principalmente os mais jovens, excluídos e frustrados com o rumo do seu próprio país. Este cenário mina por dentro o desenvolvimento harmonioso desta jovem nação.

Não esperem de Fabiano Sakanumba Sakalukango Sakalinha um discurso incoerente sobre os 50 anos de independência de Angola. A verdade é que, em Angola, nunca houve paz plena; o que existe é pobreza intelectual e falta de vontade política. Meio século depois da proclamação da independência, o país chega a 2025 com um perfil histórico denso: a luta contra o colonialismo, a proclamação da liberdade e a longa guerra civil marcam a memória coletiva. Contudo, quando hoje se fala em independência, o jovem angolano já não pensa em armas ou trincheiras. Pensa em emprego, pão na mesa, escola para os filhos, hospitais que funcionem e liberdade efetiva. Refletir sobre os 50 anos de Angola é questionar que tipo de independência temos vivido e o que significa ser livre numa nação com tantos recursos e tantas carências.
Os primeiros partidos, MPLA (1956), FNLA (1954) e UNITA (1966), surgiram como símbolos de libertação, mas também se tornaram responsáveis por divisões internas. A guerra foi mais política do que ideológica e deixou Angola refém de disputas que beneficiaram elites, enquanto destruía o tecido social e atrasava o desenvolvimento do país. Assim, meio século após a independência, Angola vive um paradoxo: é um dos países mais ricos em recursos naturais e, ao mesmo tempo, um dos que mais sofre com a pobreza e a desigualdade. A realidade traduz-se numa economia dependente, em infraestruturas modernas com serviços precários, democracia líquida e desigualdade social gritante.
É verdade que a paz trouxe estabilidade militar, mas não justiça social. Hoje, sinto que Angola trocou a guerra das balas por uma “guerra invisível” contra a fome, o desemprego e a exclusão. Com mais de 60% da população abaixo dos 25 anos, a juventude deveria ser o motor de renovação, mas continua a ser a camada mais afetada pelo desemprego, pela falta de oportunidades e pela marginalização política. Os 50 anos de independência de Angola representam uma mistura de orgulho e decepção. O verdadeiro desafio já não é evitar a guerra, mas construir um Estado que sirva todos e não apenas alguns. O cidadão angolano sabe que não se come paz nem se paga a escola dos filhos com independência. É preciso políticas públicas sérias, combate à corrupção e aposta na juventude como força de transformação.
O passado revela uma nação forjada pela luta; o presente mostra avanços, mas também limitações e contradições; o futuro dependerá da capacidade da juventude de transformar desafios em oportunidades. Basta observar o fluxo de imigrantes: milhares de jovens fogem em busca daquilo que o seu país deveria garantir. Em Angola, a esperança morre antes de nascer. Não é uma meta, como ensinou São Paulo, em Romanos 5,5; aqui, a esperança é muitas vezes transformada em ganância, frustração e desencanto. De que vale, então, celebrar 50 anos de independência sem vontade política? Como dizia Fridolin Kamolakamue: “somos jovens que nascemos sem pedir, mas morreremos apenas por pedir um país melhor”. Em Angola, morrer é uma profissão e roubar tornou-se uma virtude.


