[A ARTE DA MISSÃO] Cadeira da presidência de D. Teotónio Vieira de Castro

Cadeira da presidência de D. Teotónio Vieira de Castro
Autor desconhecido, 1925
Madeira esculpida e torneada (estrutura), couro gravado (espaldar e assento) e liga metálica (pregaria e remates decorativos)
151 × 64,5 × 65 cm
Seminário das Missões de Cucujães
Foto: Sociedade Missionária da Boa Nova

(Eva Dias) – D. Teotónio Vieira de Castro (1859-1940) foi um prelado natural da cidade do Porto que, juntamente com outras figuras do episcopado português, desempenhou um importante papel na construção da futura Sociedade Portuguesa das Missões Católicas.

Enquanto bispo de Meliapor (Índia), foi nomeado pelo Papa Pio XI (pont. 1922-1939) em 1922 para assumir o lugar de D. João de Lima Vidal (1874-1958) como Procurador-Geral das Missões Religiosas dos Padres Seculares Portugueses e superior do Colégio das Missões de Tomar. Em agosto de 1923, é nesta qualidade que recebe do P. José Vicente do Sacramento (1868-1933) o antigo mosteiro beneditino de Cucujães para transformar em Seminário das Missões. Em 1926, viu o Estado português reconduzir o Seminário de Cernache do Bonjardim para a administração dos Padres Seculares Portugueses.

O bispo de Meliapor foi particularmente ativo na dinamização da consciência missionária em Portugal e nos territórios sob sua jurisdição administrativa e/ou religiosa. Em agosto de 1923 ditou a criação de uma publicação periódica que auxiliasse «o publico – clero e povo – a compreender a obrigação moral de se interessar mais pelas Missões e pelo progresso da propagação da Fé em geral» (MC, Ano I, n.º 1, ago. 1924, p.9), que deu origem ao boletim mensal O Missionário Católico, editado pelos Padres Seculares Portugueses desde 15 de agosto de 1924.

No Ano Santo de 1925, D. Teotónio foi o representante do episcopado português junto da Santa Sé para a Exposição Missionária Mundial, na cidade do Vaticano. Com o mesmo espírito encetou esforços para a realização de um certame idêntico em Portugal. Porém, somente depois da nomeação para Patriarca das Índias (1929) e do regresso a este território, foi levado a efeito o I Congresso Missionário na cidade de Barcelos, em setembro de 1931.

A braços com a construção do novo edifício do Seminário das Missões de Cucujães, em 1926, D. Teotónio foi o responsável pelo lançamento de uma medalha missionária e da dinamização do primeiro Dia das Missões em Portugal. A iniciativa deu origem à Pia Associação de Nossa Senhora das Missões, com aprovação e bênção dos bispos portugueses e da Sagrada Penitenciaria Apostólica, em 28 de julho desse ano. Ativa na atualidade, desde a sua génese esta associação tem por finalidade despertar e fomentar o interesse dos cristãos pelas Missões e cooperar ativamente na evangelização, através da oração diária e da partilha de bens em favor da formação e envio dos missionários.

Outros eventos poderiam ser evocados para recordar este dedicado obreiro das Missões. Na capela do Seminário de Cucujães encontra-se ainda uma peça de mobiliário litúrgico que o recorda: a cadeira de presidência. A peça caracteriza-se pela elegante estrutura de madeira de pau santo esculpida e torneada, com espaldar e assento revestidos de couro gravado, adornados com pregaria e remates vegetalistas de metal de cor bronze. O espaldar revela-se o campo mais eloquente, com o brasão episcopal de D. Teotónio no registo superior, sucedido por listel com a divisa “Venite ad me omnes” (“Vinde a Mim todos”, Mt 11, 28) e a data “1925”. Delicada moldura e elementos vegetalistas enquadram o brasão, estendendo-se ao registo inferior do espaldar, com concheado ao centro. No assento, elementos vegetalistas e concheados com remate denticulado emolduram a floreta disposta ao centro. Desconhecem-se os motivos da encomenda da peça, somente o da sua presença neste Seminário: esta foi, durante vários anos, residência do superior dos Seminários das Missões de Portugal, onde D. Teotónio teve oportunidade de preparar o caminho para as gerações missionárias vindouras.