(Eva Dias) – Desde 1930 indicada no texto das Constituições da Sociedade Missionária da Boa Nova como padroeira desta sociedade de vida apostólica, a intercessão da Imaculada Conceição era igualmente evocada na fórmula dos juramentos dos candidatos à missionação. Embora Maria fosse invocada como imaculada desde os primeiros tempos do Cristianismo, somente em 8 de dezembro de 1894 o dogma da Imaculada Conceição da Virgem Santa Maria foi solenemente definido por Pio IX (pont. 1846-1878), através da Constituição Apostólica Ineffabilis Deus.

A sua festa era celebrada no oriente desde o século VIII, difundindo-se por toda a Europa no século XI. Até à oficialização do dogma, muitos foram os debates teológicos em torno do tema. O assunto foi inclusive defendido no Concílio de Trento (1545-1563), assumindo a Igreja católica inequívoca oposição relativamente ao Protestantismo, que negava a conceção imaculada de Maria. Este posicionamento originou um incremento substancial da representação iconográfica do tema.
A imagem subjacente à iconografia da Imaculada foi tomada do livro do Apocalipse, quando descreve «uma mulher revestida de sol, tendo a lua debaixo dos pés e uma coroa de doze estrelas sobre a cabeça» (Ap 12, 1). O modelo iconográfico fixou-se por via do tratado de pintura de Francisco Pacheco (1564-1644), editado em 1649, expresso pela pintura espanhola em autores como Bartolomé Murillo (1617-1682) e Diego Velázquez (1599-1660), amplamente difundido pelos artistas do universo católico.
Assim o representou António de Oliveira Bernardes, notável pintor barroco do reinado de D. Pedro II (r. 1683 1705), na pintura tomada para esta reflexão. Célebre pela vasta obra de pintura de azulejo, o seu génio criativo deixou ainda marcas indeléveis na pintura de perspetiva e de cavalete. Para a igreja de Nossa Senhora dos Prazeres, em Beja, entre 1695-1698 concebeu um apreciável ciclo de pintura a óleo, onde se integra a representação da Imaculada Conceição, numa composição de acentuado dramatismo barroco. A Virgem Maria surge de pé, sustentada por querubins, sobre crescentennlunar, pousados num orbe envolvido por dragão, referência ao pecado vencido por Maria. De mãos postas, cabeça descoberta, emoldurada por halo dourado com doze estrelas apostas, de rosto e olhar dirigidos para o alto, Maria surge coberta por um espesso manto esvoaçante sobre as vestes. O plano de fundo abre-se para paisagem arborizada onde se vê, à direita, um templo maneirista com torreão e, do lado oposto, uma povoação longínqua. O registo superior mostra-se habitado por nuvens pontuadas de grupos de querubins, dispostos de ambos os lados da Virgem, fazendo recordar a sua Assunção.
Tomando Maria por companheira neste itinerário com meta assinalada para 2030, meditemos as palavras de Santo Anselmo: «Ó Mulher cheia de graça […], a tua plenitude transborda para a criação inteira e a faz reverdecer. Virgem bendita, […] pela tua bênção é abençoada toda a natureza, não só a criatura pelo Criador,
mas também o Criador pela criatura. […] Deus, que criou todas as coisas, fez-Se a Si mesmo por meio de Maria. E deste modo refez tudo o que tinha feito. […] Deus é o Pai a quem se deve a constituição do mundo, e Maria a mãe a quem se deve a sua restauração. Pois Deus gerou Aquele por quem tudo foi feito, e Maria deu à luz Aquele por quem tudo foi salvo. Deus gerou Aquele fora domqual nada existe, e Maria deumà luz Aquele sem o qual nada subsiste. Verdadeiramente o Senhor está contigo, pois quis que toda a criatura reconhecesse que deve a Ti, com Ele,tão grande benefício» (Oratio 52: PL 158, 955-956).


