(Pe. Constantino Mário Chingalule, Missionário da Boa Nova) – O Pe. Constantino Mário Chingalule, formador no Seminário da Boa Nova, em Viana, na Arquidiocese de Luanda, escreve sobre a enorme alegria de viver um duplo Jubileu: o da Esperança, na Igreja Católica, e o dos 50 anos da Independência de Angola. Apesar dos grandes desafios que o seu país enfrenta, este jovem sacerdote encara a realidade ancorado na esperança que foi derramada nos nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado. A partir desta certeza, conta que a Igreja tem procurado promover a união e a fraternidade entre todos os angolanos.

Deus espera por nós para nos abrir a Porta, abraçar e alegrar-Se connosco, tal como no abraço do Pai ao filho pródigo. A alegria de celebrar o Ano Santo da Esperança, no mesmo ano dos 50 Anos da independência de Angola, é enorme e muito especial. Elevamos o nosso canto festivo e a nossa oração de gratidão a Deus por nos enviar o Seu Amado Filho para nos redimir, e pelas graças e a proteção recebidas durante estes 50 anos de independência, marcados por tristezas, alegrias e esperanças.
A esperança que vislumbra o olhar não apenas para um futuro melhor, uma sociedade mais solidária, uma comunidade mais fraterna, mas sobretudo para a necessidade de olharmos para o outro que vive connosco, que se cruza na estrada da vida connosco, que connosco partilha o teto no mesmo local de serviço, como aquele que necessita da nossa atenção, afecto, ajuda e toda dedicação, para construirmos um mundo mais fraterno e coeso. Um mundo onde não nos consideramos mais ou menos, por sermos isto ou termos aquilo, mas no qual estamos unidos pela mesma filiação divina. Partindo da consciência desta fraternidade universal, a Igreja angolana tem procurado, através de várias iniciativas, viver o Jubileu da Esperança, com vivacidade e alegria, tentando reforçar a união entre as comunidades. Exemplo disso mesmo são as peregrinações às portas santas por vigararias, paróquias e grupos, onde os fiéis deixam as suas comodidades e partem ao encontro do Senhor e dos outros que lá os esperam acolhem, para juntos erguerem a voz a Deus.
Diante da instabilidade social, económica e política que Angola tem vivido, resultando em inúmeras manifestações e tumultos contra a governação, a Igreja Católica, inspirando-se na mensagem do Jubileu da Esperança, tem sensibilizado e provocado as comunidades cristãs e a sociedade civil angolana, em geral, a promover a fraternidade, reconhecendo as diferenças de pensamento, apelando constantemente a cuidar da paz conquistada com tantos sacrifícios. Tem igualmente alertado sobre a necessidade de compreender o que custou a liberdade e o que significa a independência e o seu mérito, apesar dos erros que lhe sucederam.

Como tal, apelando à fraternidade e à unidade, os bispos escreveram na sua Mensagem Pastoral sobre os 50 anos da independência de Angola o seguinte: “com efeito, há, entre os angolanos, naturalmente, consideráveis diferenças de sentimentos em relação à independência do seu País e aos cinquenta anos dela, o que é legítimo. Esses sentimentos revelam e significam expressões diferentes do amor à Mãe Pátria, essas, também, expressões de diferentes conhecimentos, vivências e experiências, o que, através desta mensagem, desejamos que seja, adequadamente reconhecido e igualmente valorizado. Se devidamente harmonizadas, tais diferenças são e serão energias indispensáveis para as ingentes tarefas de construção de uma Angola que seja capaz de proporcionar o melhor de si para todos os seus filhos e filhas”.
Relativamente à formação dos futuros pastores da Igreja, a celebração do Jubileu levou à intensificação da dinâmica missionária, forte e bastante fecunda, através de intercâmbios entre as dioceses da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST). O mesmo acontece com os diáconos, que realizam os seus estágios fora das suas dioceses de origem, uma realidade não muito comum no passado, que enfatiza o carácter universal da Igreja e realça a comunhão a que todos estamos chamados desde o nosso batismo. Esta dinâmica, por um lado, desafia-nos a partir, o que exige muita coragem, ousadia e fé; sobretudo quando partimos para realidades de difíceis acessos, algumas fechadas culturalmente, outras com enormes desafios sociais e até mesmo eclesiais, deixando para trás os nossos confortos e seguranças. Por outro lado, é uma experiência missionária enriquecedora e fecunda, na medida em que somos chamados a examinar os nossos conhecimentos, convicções, maneiras de analisar e julgar a realidade e, muitas vezes, libertarmo-nos de preconceitos. Isto exige humildade para perceber que não somos detentores de conhecimentos perfeitos e absolutos, mas que é precisamente no encontro com o outro que este conhecimento poderá crescer e ser aperfeiçoado. Tal como quem parte, quem acolhe tem também algo a dar e a receber.
Gostaríamos de evocar o feliz exemplo da diocese do Sumbe que, dos 28 presbíteros ordenados no seu Jubileu dos 50 anos – cujo lema é “O evangelizado evangeliza” –, enviou 12 padres em missão (2 para o Brasil, 6 para Portugal, 2 para a diocese do Luena, Angola, 1 para a Itália e 1 para a diocese de Viana, Angola), num sinal claro de comunhão e de fraternidade. Estes enviados vão reacender a esperança a um povo que anda desanimado, sedento da Palavra de Deus, partilhando as suas alegrias e as suas esperanças. Estes missionários de esperança partem para celebrar a misericórdia e o amor de Deus, para alentar aqueles que os irão acolher na sua peregrinação terrena, confiantes de que, colocando a nossa esperança em Deus, Ele há-de transformar os nossos corações.
Diante dos inúmeros desafios que a Igreja em Angola enfrenta, como os casos de famílias desestruturadas devido à precária situação social, o crescimento exponencial das seitas – que constituem, de certa forma, uma sombra ao crescimento do catolicismo –, esta esperança é vivida no meio de uma luta perseverante, ancorada na certeza, garantida pelo Espírito que nos foi dado pelo amor de Deus. Perante todos estes acontecimentos, desafios e incertezas, a Igreja católica angolana vive o duplo Jubileu com vivacidade, partilhando com todos a esperança de uma nação e de um mundo melhor.


