(Christophe Lafontaine e Paulo Aido) – Nas últimas semanas, diversas paróquias nas dioceses de Nouna e Fada N’Gourma foram alvo de ataques terroristas, havendo entre as vítimas catequistas que foram assassinados ou sequestrados. A Fundação AIS Internacional manifesta a sua profunda preocupação e tristeza pelo recrudescimento da violência neste país africano.

Nas últimas semanas, a violência terrorista no Burquina Fasso voltou a fazer-se sentir entre civis e membros da Igreja. Após vários meses de calma, durante os quais a população e os deslocados sentiram alguma esperança de paz e começaram a regressar às suas comunidades, irrompeu uma nova onda de ataques por parte de grupos jihadistas, com especial incidência nas dioceses de Nouna e Fada N’Gourma.
Fontes locais, cuja identidade é preservada por razões de segurança, disseram à Fundação AIS Internacional que, apesar dos esforços do exército e de uma milícia, os “Voluntários para a Defesa da Pátria”, a situação piorou. A 6 de Outubro, a Diocese de Nouna sofreu um ataque mortal quando três adolescentes que regressavam do Mali para o início do ano lectivo foram retirados de um autocarro e baleados. O incidente ocorreu na paróquia de Djibasso, em Madouba, perto da fronteira.
Este ataque ocorreu numa altura em que já circulavam rumores de um regresso da actividade terrorista, até porque algumas das comunidades locais tinham recebido ameaças por parte de alguns grupos armados nas últimas semanas. Horas depois desse incidente, veículos que circulavam na estrada de Nouna para Dédougou foram também alvejados. Pelo menos 15 pessoas foram mortas, incluindo vários paroquianos de Solenzo, que viajavam num autocarro atingido pelos disparos.
No mesmo dia, na Diocese de Fada N’Gourma, um catequista da comunidade de Kouala foi sequestrado durante a missa dominical. “Ele foi especificamente visado. O objectivo é espalhar o medo entre os cristãos. Às vezes, os cristãos são autorizados a rezar, mas rapidamente podem ser vítimas de abusos, para os obrigar a fugir”, disse uma das fontes locais à Fundação AIS Internacional. De acordo com informações recolhidas pela AIS, o catequista, entretanto, já libertado.
Catequista assassinado numa emboscada
Alguns dias antes, a 21 de Setembro, na mesma diocese, outro catequista, pertencente à comunidade de Saatenga, foi assassinado numa emboscada quando regressava de uma reunião pastoral. De acordo com informações recebidas pela AIS Internacional, as estradas da região estão cada vez mais perigosas, embora os terroristas circulem em grupos mais pequenos, por razões ainda desconhecidas.
Embora “muitos cristãos tenham decidido correr o risco de permanecer, apesar das ameaças cada vez mais graves em algumas partes da diocese – explica fonte local – o medo tomou conta da população civil”.
A fundação pontifícia apela a todos os seus amigos e benfeitores para rezarem pelas vítimas, pelas suas famílias e pela população em geral, e pelo regresso da paz e da segurança ao Burquina Fasso. A Fundação AIS reafirma o seu compromisso de apoiar a Igreja e as comunidades cristãs, a fim de reforçar a esperança e a solidariedade, através da prestação de ajuda material e espiritual para enfrentar os desafios colocados pelo terrorismo.
Na mais recente edição do Relatório sobre a Liberdade Religiosa no Mundo, publicado a 21 de Outubro, a Fundação AIS chama a atenção para a situação no Burquina Fasso, onde os ataques de grupos jihadistas ligados à Al Qaeda e ao Estado Islâmico causaram mais de 20 mil mortes e mais de dois milhões de deslocados.
Em 2024, o país foi responsável por uma em cada cinco mortes relacionadas com o terrorismo em todo o mundo, com 1.532 pessoas assassinadas. A violência também causou a morte ou o sequestro de dezenas de líderes religiosos, bem como o encerramento de cerca de 30 paróquias. Quase metade do território do Burquina Fasso está actualmente sob o controlo de grupos armados, que ameaçam tanto cristãos como muçulmanos.
Campanha de solidariedade em Portugal
A situação neste país africano é muito grave e já em Novembro do ano passado, há precisamente um ano, a Fundação AIS lançava em Portugal uma campanha de sensibilização da opinião pública e também de solidariedade para com as comunidades cristãos mais atingidas pela violência jihadista. Essa campanha teve o apoio de Jacques Sawadogo, um sacerdote do Burquina Fasso que viajou até ao nosso país para testemunhar de viva-voz como é viver num clima de medo e de ameaça.
“Apesar desta situação de perseguição e das dificuldades da Igreja no Burquina Fasso, os Cristãos não deixam de ir à igreja. Continuam a fazê-lo, reunindo-se nas igrejas para rezar ou reunindo-se nas casas, onde também rezam. O que é que lhes dá essa força? Penso que é, em primeiro lugar e acima de tudo, a graça de Deus. E, em segundo lugar, sabemos que há muitas pessoas a rezar por nós. E é graças a esta vontade, a esta consciência de não estarem sozinhas no seu sofrimento, que continuam a ir à igreja, continuam a viver a sua fé.“
Padre Jacques Sawadogo
O sacerdote enfatizou a importância da comunhão de fé dos cristãos em todo o mundo com o sofrimento dos que vivem a sua cruz no Burquina Fasso. “Estamos gratos a todos os que rezam por nós, porque precisamos, para que a Igreja não morra ali, para que a fé não morra ali”, disse, agradecendo a ajuda que foi sempre dada, através da Fundação AIS, aos cristãos do seu país.


