Congresso «fora da caixa» à busca do código educativo integral

(Pe. Aires Gameiro) – Vou contemplar o jardim-pomar da humanidade em mudança acelerada e fixar algumas flores e frutos, tendo em conta que é uma realidade integral e como tal deve ser investigada, cruzando as realidades com o seu código ou ADN escondido nas suas sementes. Foi o que o recente congresso (7-11.07.25) sobre o centenário da chegada da Irmãs da Apresentação de Maria à Madeira tentou dizer e dirá mais nas Atas dos trabalhos.

Só se entende a História de um país, o seu presente e as perspetivas do futuro, a partir do seu código de ser. Não se pode suprimir metade da sua cultura real e pensar que se está a respeitar a realidade. Estou a escrever em dia da festa de S. Bento, padroeiro e construtor da Europa. Como é possível entender Portugal e a Europa se esquecem as raízes e os frutos dos mosteiros, conventos, igrejas, capelas, obras, escolas, arte, bibliotecas, colégios e universidades e seus contextos?

Podíamos dizer que foi um congresso interdisciplinar, inovador, global. Científico, sim, mas de pontes científico-religiosas e cristãs-evangélicas. O congresso do centenário da Irmãs da Apresentação de Maria foi de confluências e de irradiações de fé para e da Madeira para todo o mundo. Afinal, a evangelização e a implementação do saber foram assim desde sempre: confluir e irradia. De e para cinco continentes, 23 países, 400 inscritos, mais de 50 conferências, intervenções de abertura e encerramento, dezenas de debates; oradores de duas dezenas de universidades e institutos de investigação do Brasil, Canadá, Espanha, América (USA), Filipinas, França, Gambia, Itália, Moçambique, Perú, Portugal, Roménia, Senegal, Suíça. Sobre que se falou, ouviu, refletiu e debateu? História, Educação integral, Solidariedade, Evangelização e, por arrastamento, arte, escolas, Universidades, catequese, comunicação, Inteligência Artificial, identidade cristã e outros temas, como o de sonhar.

Fora da caixa, porquê? A Revolução francesa destruiu pontes entre política, cristianismo e Igreja, suprimindo todas as ordens religiosas, em 1789. Maria Rivier, curada de duas quedas, (pela fé?), sete anos depois da revolução inicia um convento-escola católica, desígnio resiliente com ajuda da sua oração a Maria, e com outras jovens. A semente cresce e irradia. Fora da caixa revolucionária mas dentro do desígnio de Deus de empreender o possível?

Na Madeira, Afonso Costa extingue os institutos religiosos em 1910. Passados 12 anos já os Irmãos de S. João de Deus iniciavam um convento e a Casa de Saúde no Trapiche, e em 1925 as Irmãs da Apresentação e as Irmãs Hospitaleiras do SCJ chegam ao Funchal. Iniciativas fora da caixa revolucionária francesa e da maçonaria republicana. Maria Rivier teve a ousadia de fazer o proibido pelos falsos donos do mundo. Outros institutos religiosos na Madeira empreenderam obras de educação, saúde e solidariedade, poucos anos depois da proibição com ousadia de fazer o bem apesar de tudo.

Fora da caixa e inovador, porquê? Por ser um congresso interdisciplinar e se cruzar com temas que tendem a ficar de fora em encontros de ciência, como os de poesia religiosa, arte de ícones ortodoxos e católicos sobre a Apresentação de Maria no Templo, Voluntariado, Catequese, ecologia integral e valores de transcendência do humano enxertado de espírito que sopra sem sabermos de onde vem, nem para onde vai. Foi bom ouvir falar de comunicação como um vai-e-vem de ouvir, ler, refletir, escrever, declamar e proclamar; ouvir falar das grandezas e limites da vida consagrada na literatura romanceada; fez desejar investigação doutras narrativas, em primeira mão, se nos conventos se ensinavam a ler os poucos que aprendiam nesses tempos.

A Igreja e os cristãos, «sem vergonha de Jesus Cristo», identificam-se por fazerem como Cristo fez, com os meios que têm, como Maria Rivier e tantos outros fizeram. Vivem a fé que são habitados por um ADN do Espírito que lhes revela desígnios e concede dons e capacidades de descobrir as dimensões esquecidas pelos que se movem «dentro das caixas» formatados nos areópagos de linhas tortas. A poesia religiosa revela e aproxima-se da educação integral, científica e meta-científica e mística. Será por isso que alguns agnósticos não gostam das surpresas dessa poesia? Hannah Arendt, Edgar Morin (atualmente com 104 anos), Pe. Manuel Antunes, Maria Rivier, Papa Francisco, S. João de Deus e milhares de outros refletiram e agiram fora da caixa e estimulam a desafios e ousadias de educação integral dos humanos que começam a ser e os que a morte convida a recomeçar a ser imensuráveis e inimagináveis enxertados do Espírito.