Esperar é Ligar

Papa Leão XIV, Excertos da Catequese da Audiência Jubilar de 14 de junho de 2025

Foto: Pe. Rui Ferreira

Une-nos a esperança transmitida pelos Apóstolos desde o princípio. Os Apóstolos viram em Jesus a terra ligar-se ao céu: acolheram a Palavra da vida com os olhos, os ouvidos e as mãos. O Jubileu é uma porta aberta para este mistério. O ano jubilar liga mais radicalmente o mundo de Deus ao nosso. Convida-nos a levar a sério o que rezamos todos os dias: «Assim na terra como no céu». Nisto consiste a nossa esperança. Esperar significa ligar.

Um dos maiores teólogos cristãos, o bispo Ireneu de Lião (…) nasceu na Ásia Menor e formou-se entre aqueles que tinham conhecido diretamente os Apóstolos. Depois veio para a Europa, porque em Lião já se tinha formado uma comunidade de cristãos provenientes da sua terra. Como nos faz bem recordá-lo aqui, em Roma, na Europa! O Evangelho foi trazido para este continente a partir de fora. E, ainda hoje, as comunidades de migrantes constituem presenças que reavivam a fé nos países que as acolhem. O Evangelho vem de fora. Ireneu liga o Oriente e o Ocidente. Este é já um sinal de esperança, pois recorda-nos como os povos continuam a enriquecer-se mutuamente.

Mas Ireneu tem um tesouro ainda maior para nos oferecer. As divisões doutrinais que encontrou no seio da comunidade cristã, os conflitos internos e as perseguições externas não o desencorajaram. Num mundo fragmentado, aprendeu a pensar melhor, prestando atenção cada vez mais profunda a Jesus. Tornou-se cantor da sua pessoa, aliás, da sua carne. Reconheceu que n’Ele o que para nós parece oposto se recompõe na unidade. Jesus não é um muro que separa, mas uma porta que nos une. Devemos permanecer n’Ele e distinguir a realidade das ideologias.

Ainda hoje as ideias podem enlouquecer e as palavras podem matar. A carne, porém, é aquilo de que todos nós somos feitos; é o que nos liga à terra e às outras criaturas. A carne de Jesus deve ser acolhida e contemplada em cada irmão e irmã, em cada criatura. Ouçamos o clamor da carne. Ele está inscrito na nossa carne, antes de qualquer lei.

Jesus é a vida eterna no meio de nós: Ele une os opostos, tornando possível a comunhão.

Somos peregrinos de esperança, porque entre as pessoas, os povos e as criaturas é necessário que alguém se decida a caminhar rumo à comunhão. Em cada uma das nossas cidades, voltemos a construir pontes onde hoje existem muros. Abramos portas, liguemos mundos, e haverá esperança!