(Pe. Tiago Tomás, Missionário da Boa Nova no Japão) – Como é que o Jubileu da Esperança está a ser vivido em diferentes geografias e contextos culturais? A meio do atual Ano Santo lançámos esta questão a alguns missionários a trabalhar em diferentes continentes. Nesta Boa Nova, apresentamos a partilha do Pe. Tiago Tomás, missionário no Japão. Nos próximos números, iremos partilhar a vivência do Jubileu a partir de outras latitudes.

No coração pulsante do Japão, um dos países mais visitados e admirados do mundo, o Ano Jubilar da Esperança ilumina novas dinâmicas e horizontes espirituais na Arquidiocese de Osaka-Takamatsu. Inspirada pelo tema universal da esperança, a Igreja navega por caminhos que mesclam história, cultura e fé. Da beleza reveladora da exposição no Pavilhão do Vaticano à tradição acolhedora dos itinerários espirituais em Shikoku, das sementes de esperança plantadas pela educação até as flores de convivência inter-religiosa e ecuménica que testemunham valores comuns, a fé cristã brilha como uma luz transformadora no Japão. Neste laboratório de espiritualidade e integração, as comunidades cristãs multiculturais oferecem um testemunho vivo e inclusivo, sendo pontes e casas da única esperança que nunca engana: Deus. Este pequeno testemunho quer partilhar como cada iniciativa molda o panorama missionário, ampliando os horizontes da evangelização e consolidando a promessa de Deus como aquele que une e transforma através da beleza, da hospitalidade e da verdade.
A Exposição no Pavilhão do Vaticano: Beleza e Esperança
No coração das celebrações do Ano Jubilar da Esperança, a Arquidiocese de Osaka-Takamatsu teve a honra de receber, em nome da Igreja no Japão, o emblemático Pavilhão do Vaticano na Expo 2025. Realizada na ilha artificial de Yumeshima, Osaka, esta iniciativa emerge como um farol espiritual e cultural, destacando a profunda relação entre a beleza e a esperança.
Entre seus principais destaques, a obra “A Deposição”, de Caravaggio, ocupa um lugar central, representando de forma magistral o momento em que o corpo de Cristo é retirado da cruz. Escolhida diretamente pelo saudoso Papa Francisco, a pintura é uma poderosa metáfora da ressurreição, onde o drama da dor se transfigura em redenção. Muito mais do que uma expressão estética, a obra revela o potencial da arte como um elo transformador entre o humano e o divino. Além disso, o pavilhão oferece uma rica integração de elementos culturais japoneses e cristãos. Eventos destacaram símbolos como a caligrafia tradicional “Sumi-e” e a evocação artística que une o Sol Nascente à cúpula de São Pedro, criando uma ponte simbólica entre tradições e espiritualidades.
Com esta iniciativa, a Expo 2025 não apenas celebra inovação e sustentabilidade, mas também convida à contemplação do que realmente dá sentido à vida. O pavilhão recoloca Deus no centro deste evento global, apresentando-O como a única esperança que nunca falha. Transformando-se num espaço de encontro entre culturas, ele promove a beleza como uma ponte e a esperança como um propósito essencial. Este espaço singular tem sido um refúgio de introspeção no meio do dinamismo da Expo. Para os fiéis, ressoa como um chamado à ação, não apenas como espectadores, mas como protagonistas de uma transformação espiritual e social, baseada na confiança em Deus. Simultaneamente, ele dialoga com o público secular, reafirmando a universalidade da beleza e da esperança, e convidando à reflexão sobre o papel transformador da fé na construção de um futuro verdadeiramente próspero e humano.
Entre os momentos memoráveis no pavilhão, destaca-se a visita do Secretário de Estado do Vaticano, Cardeal Pietro Parolin. Num discurso inspirador, afirmou que, para os católicos, a beleza não é meramente estética, mas algo que toca a alma, enquanto a esperança transcende o otimismo, tornando-se uma força capaz de promover diálogo, paz e compromisso. A sua mensagem reforçou o papel do pavilhão como símbolo vivo da missão da Igreja no mundo. No coração da Expo 2025, o Pavilhão do Vaticano apresenta-se como um espaço onde arte, espiritualidade e humanidade se encontram em harmonia. Ele é uma poderosa lembrança de que, em tempos de desafios e tensões, valores como beleza e esperança podem transformar realidades, inspirar uma convivência mais luminosa e solidária, e apontar para um mundo mais profundamente humanizado e, por isso, divinizado. Afinal, apenas na integração com o divino é possível alcançar uma verdadeira prosperidade humanizante e duradoura.
Nos Caminhos da Esperança: Shikoku, um Novo Rumo Espiritual no Ano Jubilar da Esperança
A ilha de Shikoku, guardiã do milenar itinerário dos 88 Templos, renova-se neste Ano Jubilar da Esperança com um gesto profundamente simbólico e inspirador: o convite aos peregrinos cristãos para visitarem as igrejas jubilares da região. Esta proposta, além de inovadora, atravessa fronteiras religiosas e culturais, revelando um horizonte onde a espiritualidade encontra a ponte do diálogo e da partilha.
Por séculos, Shikoku tem sido sinónimo de peregrinação e acolhimento. Através do Henro, o caminho dos 88 Templos inspirado pelos ensinamentos do monge budista Kōbō Daishi, a jornada liga corpos e almas a uma realidade transcendental, enriquecida pela prática do osettai, que manifesta a generosidade vibrante das comunidades locais. Dentro deste cenário profundamente espiritual, o gesto de incluir igrejas cristãs entre os destinos dos peregrinos desponta como uma nova dimensão de hospitalidade e introspeção.
No espírito do Ano Santo, esta integração das igrejas jubilares em Shikoku ergue-se como um símbolo de encontro entre espiritualidades distintas. Para os cristãos, caminhar por Shikoku torna-se um convite a refletir sobre sua fé num solo marcado por séculos de tradição budista. Para os budistas, esta convivência abre novas perspetivas, revelando o cristianismo como uma herança espiritual que também busca harmonia, renovação e comunhão. Ao abrir as portas para os peregrinos, os cristãos de Shikoku não oferecem apenas um espaço de oração, mas um testemunho vivo de fé e acolhimento incondicional. Este gesto é como uma chama, iluminando a capacidade da fé cristã de dialogar com a tradição budista e fortalecendo os laços de respeito mútuo e partilha espiritual. A iniciativa, portanto, transcende a individualidade religiosa, lembrando-nos de que a verdadeira esperança não conhece barreiras. Ela entrelaça culturas e credos, criando um elo capaz de inspirar um mundo fragmentado.
No contexto do Jubileu, o convite aos cristãos para explorar Shikoku e suas igrejas jubilares é muito mais que um gesto inovador; é uma luz que aponta para a profundidade do amor de Deus, capaz de unir e transformar. Shikoku, há muito tempo um palco para jornadas de renovação, torna-se agora um símbolo vivo da colaboração inter-religiosa e da incrível capacidade humana de hospedar a esperança nas suas formas mais variadas e sublimes. Seja na quietude de um templo budista ou na oração em uma igreja cristã, a busca permanece a mesma: a comunhão com o divino e o reencontro com os nossos irmãos. Que Shikoku continue a ser uma terra onde a herança espiritual encontra a promessa de um amanhã repleto de esperança, unindo passos e corações sob a luz eterna que só Deus pode oferecer.
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