[MEMORIAL]: Da renovação da Igreja à plena liberdade do exercício da sua missão: a Boa Nova como reflexo de um tempo novo

Última edição da revista Missionário Católico, dezembro de 1969. Foto: Eva Dias

(Eva Dias) – O Concílio Vaticano II (1962-1965) surgiu na história da Igreja e do mundo como sopro de renovação. Fazendo eco do decreto Ad Gentes, também o Missionário Católico deu sinais do tempo novo que se agitava, de modo particular entre os institutos missionários, com o apelo à renovação de mentalidades e de métodos.

 Sinais que tornaram-se evidentes a partir de janeiro de 1968: novo formato e número de páginas, novos conteúdos, modernização do grafismo e das imagens, procuravam tornar a revista mais apelativa. Pelo “Correio dos Leitores” colhiam-se as reações, maioritariamente positivas. Mas, continuava a pulsar certa necessidade de maior arrojo. Em abril e junho de 1968, o P. Artur de Matos, então redator, sugeriu aos leitores a alteração do título da revista para Boa Nova ou Mundo Novo (cf. Boa Nova, ano L, julho 1974, p.45). Porém, as reações ao apelo de mudança foram diminutas. Em novembro, a nomeação do P. Agostinho Rodrigues para diretor trouxe alguma expectativa. Pelo editorial de janeiro de 1969 introduzia uma linha de rumo de caráter mais abrangente: a publicação devia ser «uma revista missionária à dimensão do mundo», «dominada pela preocupação do homem», «uma revista jovem», animada «pelo espírito novo que animou a Igreja do Vaticano II» (ano XLV, n.º 1, 1969, p.2). Em dezembro, anunciava para o mês seguinte a mudança do título para Boa Nova, «uma exigência não apenas da grande parte dos leitores, mas também dos tempos atuais» (ano XLV, dez. 1969, p.3).

Os primeiros números da década de 1970 revelaram uma mudança substancial: novo título (Boa Nova – revista de actualidade missionária), novo figurino, leve e dinâmico, nova paginação e grafismo, afinados em cada edição. No editorial intitulado «Recomeço», o Superior Geral apresentava a revista como reveladora da «renovação da doutrina missionária desde a encíclica Maximum Illud (30 de Novembro de 1919) – sob cuja luz nasceu o Missionário Católico – até ao decreto conciliar Ad Gentes, renovação que hoje continua» (ano XLVI, jan. 1970, p.1). Contudo, o alinhamento dos conteúdos com as orientações atualizadas da Igreja trazia implicações. Em março, tornou-se imperativo apresentar a «Linha de Rumo» da revista, pois «houve […] quem ao ler os primeiros números, se escandalizasse (!) insinuasse intenções, lesse nas entrelinhas». A Boa Nova assumia-se «continuadora humilde e fiel de “Missionário Católico” […]. Mas não quer estar contra ninguém; estará apenas contra […] tudo o que seja contra a dignidade das pessoas ou a liberdade dos filhos de Deus. […] Se alguma evolução existe apenas a concebemos como uma exigência de fidelidade ao Evangelho e à Igreja em renovação, isto é, numa linha de serviço dos homens nossos irmãos» (ano XLVI, mar. 1970, p. 1). Feito o esclarecimento, a publicação continuou a cimentar o seu percurso, rumo ao cinquentenário.

O ano de 1974, de si relevante pela celebração do jubileu de ouro da publicação, trouxe o acontecimento histórico que marcaria de forma indelével Portugal e os territórios ultramarinos: a Revolução de 25 de Abril. Pelo texto intitulado «Situação diferente», proferido na Rádio Renascença em 29 de abril como nota de abertura do programa “Esquema 13 – Boa Nova”, o P. Agostinho Rodrigues, citando trechos do Concílio Vaticano II, informava: «alegramo-nos com o reconhecimento da liberdade a que a Igreja tem direito, e mais nos alegramos pelas condições concedidas para o pleno exercício desta liberdade». «[…] o Regime reconhece à Igreja a plena liberdade no exercício da sua missão, mesmo quando por ventura haja divergência de pontos de vista ou de conclusões» (ano L, jun. 1974, pp.3-4). O reconhecimento da liberdade de ação da Igreja foi o justo prémio pelos esforços desenvolvidos pela Igreja em Portugal e nos países de Missão para tornar efetivo o alinhamento com a Igreja universal, um intenso percurso de renovação de que o Missionário Católico/Boa Nova foi um pequeno reflexo.