(Eva Dias) – Mercê da encíclica Saeculo Exeunte Octavo, dirigida pelo papa Pio XII à hierarquia da Igreja em Portugal, em 13 de junho de 1940, assistiu-se a uma mudança de paradigma relativa à questão missionária no país. Particularmente os pontos n.os 18 e 27 apelavam a uma sólida e profunda consciência missionária entre os jovens em formação.

Esta consciência era naturalmente cultivada nos seminários das missões, mas era premente que esta penetrasse de forma consistente nos seminários diocesanos, nos colégios e noutros estabelecimentos de ensino, necessidade sentida sobretudo após a criação da União Missionária do Clero (UMC), em 1934. Desde a nomeação de D. Manuel Ferreira da Silva, bispo de Gurza, para Superior Geral da Sociedade Portuguesa das Missões Católicas Ultramarinas, em janeiro de 1940, e para presidente da UMC, em setembro desse ano, substituindo D. João Evangelista de Lima Vidal, que desempenhara idênticas funções, e após a publicação da encíclica, incitou-se a maior envolvimento dos jovens na causa missionária.
Desde a sua fundação, O Missionário Católico mantinha como objetivo primordial o despertar da consciência missionária entre o clero e os leigos. Entre os mais jovens, suscitava particular interesse os contos missionários e o Concurso Missionário que, desde fevereiro de 1934, animava mensalmente o verso da contracapa com temas que valiam prémios. No mês seguinte, a listagem de vencedores anunciava, por entre parêntesis, de onde escreviam os participantes, muitos deles estudantes nos seminários diocesanos, sintomático da presença da imprensa missionária nestes meios de ensino.

No início dos anos 40, a introdução da secção “Rádio Missões” veio reforçar a importância de cativar os jovens para a problemática missionária. Entre as emissões publicadas nas páginas da revista posteriores à encíclica de Pio XII, Fr. Luís de Santo Tirso, pseudónimo do P. Luís Gonçalves Monteiro, anunciava: «em Portugal já se fundou a “Liga Académica Missionária de Coimbra”, para os estudantes filiados no C.A.D.C. [Centro Académico de Democracia Cristã]». E apelava: «Oxalá que em breve possamos dizer […] que a “Liga Missionária Académica” é uma grande e prometedora realidade na Pátria do Beato João de Brito» (MC, ano XVII, n.º 197, dez. 1940). Ao apelo responderam no ano seguinte os seminaristas da Guarda, esperando «fundar a sua Liga Missionária no dia 4 de Fevereiro, dia do Beato João de Brito». (ano XIX, n.º 211, fev. 1942, p.27), o que se verificou (ano XIX, n.º 212, mar. 1942, p.48). Em abril, as páginas de O Missionário Católico eram animadas com a carta de um seminarista de Bragança, datada de 15 de março, sugerindo a criação da Liga Missionária dos Seminaristas de Portugal (ano XIX, n.º 213, abr. 1942, p.58), ideia reforçada pela emissão da “Rádio Missões” de maio (ano XIX, n.º 214, mai. 1942, p.78). Em julho, era noticiada a existência de Ligas Missionárias nos Seminários de Coimbra, Guarda, Bragança e Vilar (ano XIX, n.º 216, jul. 1942, p.100). Em outubro, pela proximidade do Dia Mundial das Missões, D. Manuel Ferreira da Silva, na qualidade de Presidente Nacional da UMC, dirigiu-se aos Seminaristas de Portugal, em especial aos membros das Ligas Missionárias, para que celebrassem convenientemente este dia (ano XIX, n.º 219, out. 1942, p.133).
O apelo era reforçado na “Rádio Missões”, juntamente com a sugestão «que era um belo dia para a inauguração de agremiações académicas pró-missões, como a L.A.M.C, do C.A.D.C. de Coimbra e da L.M.S. […], à semelhança do que já se fêz nos Seminários de Coimbra, Pôrto e Bragança» (idem, p.134).
Publicado na edição impressa de dezembro de 2024.


