(Eva Dias) – O Dia das Missões, instituído em 1926 pelo papa Pio XI (pont. 1922-1939), a celebrar no penúltimo domingo do mês de outubro, foi pela primeira vez mundialmente celebrado em 23 de outubro de 1927. Em Portugal, D. Teotónio Vieira de Castro (1859-1940), Superior dos colégios das Missões Católicas Portuguesas, a braços com a construção do novo edifício do seminário de Cucujães, assumiu particular dinamismo na consciencialização para a causa missionária.
Pela edição de março de 1926, os leitores de O Missionário Católico tomaram conhecimento da iniciativa do lançamento de uma medalha missionária e do Dia das Missões, sugerido para o primeiro domingo de maio daquele ano, a celebrar em Portugal e nos territórios ultramarinos. A proposta era «ás portas dos templos, nas ruas, nas Associações e noutras partes onde fôr possivel, se fizesse um peditório para as Missões, vendendo-se a Medalha Missionária ou oferecendo-a a quem generosamente désse para as Missões donativo ou esmola superior ao preço da mesma». A finalidade: «interessar os nossos compatriotas […] pelas Missões Católicas e sobretudo pelas das nossas vastas colónias e do Padroado […] e ao mesmo tempo a fim de obter alguns recursos para auxiliar os Colégios das Missões Religiosas onde se educam os futuros Missionários portugueses» (ano II, n.º20, mar. 1926, p.151). O anúncio no boletim sucedia ao pedido de apoio do episcopado português, convocado através do ofício que D. Teotónio enviara a cada um dos representantes das dioceses em 22 de fevereiro. O acolhimento da iniciativa e o contributo ativo dos prelados para o seu bom êxito tornaram-se públicos pelas respostas à carta enviada, publicadas na edição de maio (ano II, n.º22, mai. 1926, pp.188-193). Apesar dos esforços, o atraso na cunhagem das medalhas, encomendadas em Paris e Milão, impossibilitou o cumprimento do propósito no mês indicado. Ficaria adiado para junho, em dia a determinar (idem, p.205). A edição de julho trouxe publicada a nota de agradecimento de D. Teotónio pelo sucesso da venda da medalha, datada de 16 daquele mês. Nela dirigia «vivos agradecimentos» «a essas boas senhoras e ao Rev. Clero e á imprensa periodica, […] porque a sua franca expontaneidade, o amor do sacrificio e a dedicação pela causa Missionária tem qualquer coisa de muito grande e muito significativa […]». Porém, a nota é omissa quanto ao momento em que foi celebrada «a primeira jornada Missionaria» em Portugal (ano II, n.º24, jul. 1926, p.229).
A iniciativa esteve na génese da Pia Associação de Nossa Senhora das Missões, com aprovação e bênção do episcopado português e da Sagrada Penitenciaria Apostólica, em 28 de julho de 1926 (ano III, n.º27, out. 1926, pp.41-43). A associação tinha por finalidade despertar e fomentar o interesse dos cristãos pelas Missões e cooperar ativamente na evangelização, particularmente nos países de expressão portuguesa, através da oração diária pela evangelização do mundo e pelas vocações missionárias, e da partilha de bens (esmola ou donativos) em favor da formação e envio dos missionários.
O sucesso do primeiro Dia das Missões em Portugal mostra a capacidade mobilizadora de O Missionário Católico e do seu ideador, mantendo desperta a consciência missionária junto de assinantes e leitores, mas de modo particular quanto o episcopado português apoiava ativamente a causa missionária e quão cooperantes se revelaram os leigos com a mesma causa. Essa força motriz foi sabiamente condensada por D. Teotónio, perpetuada numa associação que continua viva e ativa até à atualidade.
Publicado na edição impressa de outubro de 2024.
