[MEMORIAL]: O Jovem Missionário

(Eva Dias) – Ainda a Sociedade Portuguesa das Missões Católicas Ultramarinas (1930) não era uma realidade e a edição de O Missionário Católico de julho de 1925 noticiava a primeira ordenação sacerdotal de um missionário formado no seminário das Missões de Cucujães. David Pereira da Silva, conhecido como o “Jovem Missionário”, foi ordenado presbítero em 26 desse mês, por D. Teotónio Vieira de Castro, Superior dos Colégios das Missões, na igreja paroquial de Cucujães.

Natural de Monteiras, Castro Daire, o Pe. David «cursou preparatorios e os primeiros anos de teologia no Seminario de Lamego, donde depois, com autorisação do seu Ex.mo Prelado, passou para este seminario de Cucujães em 1924» (MC, Ano I, n.º12, jul. 1925, p.1). Aqui recebeu, no ano letivo de 1924-1925, o 1.º prémio em Mérito Moral (MC, A. III, n.º32, mar. 1927, p.153). Das páginas dedicadas à sua ordenação e ao aniversário natalício de D. Teotónio sobressai uma nota interessante: «Para solenisar estas duas datas foi distribuido no dia 27, pelos alunos do Colegio, um numero unico do jornal “O Joven Missionario”, que se achava artisticamente ilustrado e elaborado» (idem, p.4). 

Apresentando-se como «obra exclusiva dos alunos, que o redigiram, compuseram e imprimiram», de periodicidade trimestral (JM, A. I, n.º 1, jul. 1925, p.1), O Jovem Missionário passou a suplemento mensal de O Missionário Católico, comunicando, nas suas quatro páginas, «notícias vindas das Missões Portuguesas das nossas colónias, e outras referentes à vida dos nossos Colégios de Tomar e Cucujães» (JM, A. I, n.º 2, nov. 1925, p. 2). Foi editado até julho de 1931, atingindo uma tiragem de 2.100 exemplares (JM, A. VII, n.º 54, jul. 1931). Deu lugar ao jornal Cruzada Missionária – hoje Voz da Missão –, editado a partir de março do ano seguinte, este destinado «a uma acção ao mesmo tempo mais vasta e mais forte e profunda», como a de «fazer correr por tôdas as nossas veias o sangue de uma nova e ainda mais exuberante juventude missionária» (CM, A. I, n.º 1, mar. 1932, p. 1).

Da discreta figura que apadrinhou O Jovem Missionário, na tarde de 5 março de 1926 fez o compromisso missionário na capela de Santa Filomena, em Cucujães, partindo depois de comboio rumo a Lisboa, onde embarcaria em abril, com destino a Moçambique (MC, A. II, n.º 20, mar. 1926, p.153-154). Em maio, o Pe. David estava «em viagem» (MC, A. II, n.º 22, mai. 1926, p.194), desembarcando na capital moçambicana no dia 29, como informou pela carta a D. Teotónio, de 5 de junho, publicada na revista no mês seguinte (MC, A. II, n.º 24, jul. 1926, p.243). No início de outubro, a partir da missão de Malatane, em Angoche, o Pe. David dirigiu-se aos companheiros do Colégio das Missões de Cucujães, incitando-os que a ele se juntassem: «quando vós vierdes, os nossos braços tornam-se mais fortes, a nossa coragem mais decidida, porque vós nos trareis o elixir da esperança» (MC, A. III, n.º 31, fev. 1927, p.133). Porém, a sua saúde ressentiu-se nos anos seguintes e, por portaria de 31 de março de 1930, «foi mandado continuar na situação de inactividade temporaria pela Junta de Saude das Colónias» (MC, A. VI, n.º 70, mai. 1930, p.196). Depois de seis anos de apostolado, aquele que dera «pretexto ao aparecimento do jornalzinho dos nossos rapazes assim intitulado, quando da sua partida para África», viria a falecer no hospital da Ajuda, em 27 de fevereiro de 1933. Não obstante não pertencer à Sociedade Portuguesa das Missões Católicas, foi por ela assistido na doença e na morte, em preito de gratidão pelo seu exemplo (MC, A. X, n.º 104, fev. 1933, p.50).

Publicado na edição impressa de julho de 2024.