[MEMORIAL]: O Missionário Católico: das primeiras datas jubilares ao reconhecimento internacional

(Eva Dias) – Em agosto de 1925, O Missionário Católico celebrava, «atravez de dificuldades de diferentes especies», o primeiro aniversário. Tinha conseguido reivindicar «o logar que de direito pertence ás Missões Seculares Portuguêsas» e vingar «do olvido muitas dedicações e muitos sacrificios que, sem este modesto recurso de publicidade, ficariam letra morta para a História das Missões».

Diploma atribuído ao Seminário das Missões de Cucujães, 1930. Foto: Eva Dias

Era digno de registo o acolhimento positivo recebido da imprensa católica, «até ao ponto de bastantes vezes já terem transcrito artigos e fotogravuras». Este acolhimento ecoava igualmente entre os missionários e os cidadãos dispersos pelas colónias e dioceses do padroado português (ano II, n.º 13, ago. 1925, pp.3-4). No ano seguinte, eram anunciados os primeiros frutos da publicação: os colégios de Tomar e Cucujães eram já conhecidos e estimados; a lista de amigos e benfeitores era crescente, permitindo o avanço das obras de ampliação do seminário de Cucujães. Em cada aniversário, elevava-se o tom religioso e patriótico do boletim, sendo reconhecido como principal benefício da sua existência o crescente conhecimento da ação dos Padres Seculares Portugueses, que se desejava fosse imparcial e justo (cf. ano IV, n.º 37, ago. 1927, pp.1-2).

Para esse objetivo concorria o conteúdo, que seguia fiel às linhas orientadoras traçadas no número inaugural. Entre 1924 e a fundação canónica da Sociedade Missionária, eram preponderantes os relatórios das missões, os mapas estatísticos e as notícias que os missionários faziam chegar. Outra marca relevante era a apresentação de figuras eminentes da missionação portuguesa, rostos mais ou menos notórios que, com regularidade, eram dados a conhecer aos leitores. Dos conteúdos transparecia a estreita relação entre o Superior dos Colégios e a hierarquia da Igreja, de modo particular o Episcopado português, como que chancelando a idoneidade da publicação. Essa proximidade tornou-se particularmente evidente a partir de 1927, quando os leitores são informados da necessidade do clero, do Episcopado, e do próprio governo, de fundar uma sociedade missionária portuguesa, semelhante a congéneres europeias.

O trabalho maduro e consistente desenvolvido pelo O Missionário Católico acabaria por ser reconhecido em 1930, na Exposição Internacional Colonial Marítima e de Arte Flamenga de Antuérpia. No certame, além dos diplomas e medalhas atribuídos aos três colégios das Missões, a publicação foi «também destinguida com um Diploma e medalha de prata, sinal certo de que o seu esforço e propaganda em prol das missões católicas foi devidamente apreciado pelos membros do juri» (ano VII, n.º 81, abr. 1931, p.173). Estes prémios eram «de grande honra para todos os portugueses, missionários ou não» e a prova que Portugal «não morre nem engeita o seu glorioso passado de nação cristã e missionária» (ano VII, n.º 85, ago. 1931, p.9).

O ano de 1930 terminaria propício para o boletim. Por carta dada em Roma, datada de 30 de dezembro, D. Teotónio Vieira de Castro, outrora Superior dos Colégios das Missões, nomeado Arcebispo de Goa e Damão, transmitia a bênção especial, concedida em audiência particular no dia 27, pelo papa Pio XI a O Missionário Católico, nas pessoas do «Redactor Principal, o Administrador, os Colaboradores e os leitores» (ano VII, n.º 78, jan. 1931, pp.97-98). O reconhecimento serviu de estímulo, não somente para a continuidade da publicação, como para o projeto ambicionado de constituição de uma sociedade de vida apostólica, efetivado volvidos poucos anos, em outubro de 1932.

Publicado na edição impressa de março de 2024.