
(Eva Dias) – Em setembro de 1948 iniciou-se «uma colecção de “postais missionários”, dirigidos por um dos nossos missionários aos leitores de O Missionário Católico», apresentados «como instantâneos da vida das missões» (set.1948, p.179). Eram assinados pelo P. Albano Mendes Pedro (1915-1989) que, após alguns anos como reitor do Seminário de Tomar, em 6 de novembro de 1947 embarcou rumo a Nampula (Moçambique).
De lá remetia impressões das vicissitudes do quotidiano de um missionário católico por terras do Niassa, num breve texto que geralmente ocupava uma página e, porque não era um postal ilustrado, era desprovido de imagens, exceto os dois últimos. Deste modo, os episódios descritos eram imaginados na mente daqueles que detinham o olhar perante as linhas escritas. Ao longo de 49 postais, divididos em duas séries, o P. Albano fez chegar em linguagem simples, de refinado humor, por vezes de crítica depreciativa, a sua visão sobre aspetos do dia-a-dia, que cruzava com episódios e personagens bíblicos e as inquietações com a salvação das almas.
Entre setembro de 1948 e fevereiro de 1950, outubro de 1952 e outubro de 1955, os postais eram editados quase mensalmente, quando as ocupações do P. Albano permitiam manter certa regularidade na comunicação escrita com os leitores, que tratava sempre por «Meus caros». Mas, períodos houve em que os postais foram escassos, e mesmo nulos, como entre dezembro de 1950 e julho de 1951, ou novembro de 1951 e setembro de 1952. A responsabilidade como pároco da catedral de Nampula e, mais tarde, o exercício das funções de Superior regional dos missionários da Sociedade Missionária em território moçambicano nem sempre permitiram o contacto regular.

Com o passar dos anos, a experiência e a maturidade do remetente foi moldando o discurso dos “Postais Missionários”. Se os primeiros conteúdos deixam transparecer a leveza da novidade, traduzindo as inquietações de adaptação de um missionário recém-chegado da metrópole – como as feras que habitavam a selva, as estradas, os problemas nas travessias para as celebrações e visitas, as febres e mosquitos, os pagãos –, a partir de 1950 cresce o apelo por mais missionários (por ex., ago-set 1953, p.168; mai. 1954, p.172; jun. 1954, p.210; ago-set 1954, p.290). Esta consciência acentua-se depois do P. Albano assumir funções como Superior Regional, através das visitas às comunidades do interior, para verificar as necessidades das populações. O tom de esperança eleva-se nos postais onde alude às missões, como a nova Missão de Murrupula (nov. 1952, p.196), a vida em comunidade na Missão jan. 1953, p.17), e as missões como centro de construções (fev. 1953, p.28).
Em 1953, o P. Albano regressou a Portugal, chamado a desempenhar as funções de Consultor Missionário no Ministério do Ultramar e de Procurador das dioceses portuguesas do Oriente, que o ocupariam durante 17 anos. Os “Postais” tiveram continuidade, assumindo um tom mais melancólico («na solidão missionária em que me sinto mergulhado», mar. 1954, p.90; cf. jul. 1954, p.250).
Naquele que seria o último postal, o P. Albano deixou a ideia da aquisição de uma casa em Lisboa, um «lar missionário dos que aqui vivem, dos que partem, dos que chegam, dos que o trabalho ou a doença obrigar a tratamento e repouso», prometendo: «o meu próximo postal apresentará a fotografia do nosso Lar Missionário de Lisboa… Quando será? – Não sei. […] Portanto, até quando Deus quiser!» (dez. 1955, p. 429), o que viria a acontecer somente em 1960, já o P. Albano se tinha despedido dos “Postais Missionários”.


