[MEMORIAL]: Um jovem poeta nas páginas de “O Missionário Católico”

Eva Dias – O P. Januário dos Santos (1932-2024) inscreveu de forma indelével o seu nome no percurso histórico de O Missionário Católico/Boa Nova, bem como noutras publicações periódicas da Sociedade Missionária, enquanto administrador, diretor, membro da equipa redatorial e colaborador. Apresentar a síntese da sua passagem por esta publicação seria a mais justa homenagem à grandiosidade do seu contributo. Pela exiguidade de tempo e espaço, faremos memória das primícias poéticas, do primeiro despontar até à ordenação sacerdotal.

Padre Januário dos Santos. Foto: ©Arquivo Boa Nova/Eva Dias

Corria o ano de 1952 quando saiu à luz «Mãos juntas», enquadrado em retângulo de fundo rubro, assinado pelo jovem Januário Aniceto, então com dezanove anos. O título abria para a oração em forma de poema, onde o autor colocava diante de Jesus as almas dos povos que ainda não conheciam o Evangelho, rogando-lhe: «Dai a essas almas santos missionários… / – Senhor, nós vos pedimos operários!» (MC, ano XXIX, n.º340, fev. 1952, p.28).

Primeiro poema do P. Januário dos Santos publicado em “O Missionário Católico“. Foto: ©Arquivo Boa Nova/Eva Dias

Com maior relevo o descobrimos na notícia da visita do Núncio Apostólico, cardeal Fernando Cento (1883-1973), ao Seminário de Cucujães, em 06 de junho de 1954. No salão da sessão de boas-vindas, o espírito poético do jovem Januário fez-se ouvir pela própria voz, quando declamou «Benvindo sejais». O momento ficou perenizado em fotografia, publicada junto do poema, ocupando página completa da edição de julho do periódico mensal. Não obstante não ser o único a presentear a ilustre visita de maneira semelhante, foi aquele que deixou no representante do Santo Padre mais viva impressão, tanta que mencionou conteúdo do poema no discurso do final da sessão (cf. MC, ano XXXI, 2.ª série, n.º7, jul. 1954, p.252).

Anos mais tarde, as páginas de janeiro de 1956 traziam a novidade de um poema dedicado a S. Francisco Xavier, intitulado «Na noite das estrelas…», que assinou «Januário dos Santos», remate que tornou frequente nos poemas subsequentes. À semelhança do primeiro poema publicado, o momento de oração noturna fora o tema escolhido, um íntimo diálogo imaginado entre o santo padroeiro das Missões e Cristo Jesus (MC, ano XXXII, n.º25, jan. 1956, p.27).

Em julho do ano seguinte assinava «Recomendação», poema publicado na contracapa da revista (MC, ano XXXIII, n.º42, jul. 1957). Nele descrevia a pueril descoberta do mar, desfiando a dicotomia realidade/imaginação que residia na expectativa de uma criança, quiçá a sua criança interior, que irmanava com esse gigante («Ó mar imenso, irmão do meu sorriso!»). Não encerraria o ano sem que o seu génio poético voltasse a surgir nas páginas do periódico mensal. Dezembro, o mês escolhido, para do nascimento de Jesus apelar «Mostrai-vos, Senhor!» (MC, ano XXXIII, n.º46, dez. 1957, p.389).

Poema «Oração», publicado na edição de abril de 1959. Foto: ©Arquivo Boa Nova/Eva Dias

O Concurso Poético, lançado na edição de dezembro de 1958, foi ensejo para contribuir para o tema “Universo e Missão”. Granjeou a Menção Honrosa e teve a felicidade de ver o poema «Roteiro que Deus traçou», versando sobre S. João de Brito, publicado entre os seis primeiros classificados do concurso (MC, ano XXXV, 2.ª série, n.º64, jun. 1959, p.199).

Já diácono, o poema «Oração» acompanhou o anúncio da sua ordenação sacerdotal, que receberia com outros cinco colegas no dia 23 de maio de 1959 (MC, ano XXXV, 2.ª série, n.º62, abr. 1959). Dele destacamos a última estrofe, prenúncio de como o P. Januário viveu a sua vocação sacerdotal: «Que mais tarde ao passarmos por alguém, / Mostrando a luz que a Vossa graça nos confiou, / Todos perguntem ao sentir-se bem / Se não era Jesus aquele que passou…».

Publicado na versão impressa de maio de 2024.