(Norma Azarias, Missionário da Boa Nova) – Norma Azarias é um jovem seminarista moçambicano da SMBN, actualmente em Valadares, que partilha a sua visão sobre estes 50 anos de Moçambique, enquanto país independente, como uma terra de esperança, apesar de todos os desafios que enfrenta.

Moçambique celebra, neste ano, 50 anos de existência como país independente. São cinco décadas em que os moçambicanos reconhecem um percurso marcado por grandes desafios — alguns superados com sucesso, outros ainda não alcançados.
Neste ano jubilar, podemos refletir sobre o trajeto histórico do país desde a data emblemática de 25 de junho de 1975, que marcou o início da Primeira República, até o presente, em 2025 — ano que, situado na Segunda República, representa também um tempo de nova consciência, inaugurada pelas manifestações gerais de 2024/2025.

Desde o ano da independência até aos Acordos de Roma de 1992, durante a Primeira República, Moçambique foi um país guiado pelos princípios socialistas marxistas, sob um regime de partido único (FRELIMO). Nessa fase, procurou-se afirmar uma identidade nacional, promovendo a solidariedade e o sentido de pertença, elementos que impulsionaram, no coração da maioria dos cidadãos, o estudo e o trabalho como meios indispensáveis para a formação do “homem novo” e de uma nova sociedade. No entanto, essa construção foi marcada pela ausência do direito à livre opinião, o que contribuiu para o surgimento da guerra civil.
Em 1992, depois de muitas vidas perdidas e grande destruição de infraestruturas, surgiu a necessidade do diálogo e do acordo entre o governo da FRELIMO e a RENAMO, o que trouxe uma nova visão para o país: a de que é possível desenvolver Moçambique democraticamente, aceitando a diversidade de opiniões e a livre escolha dos dirigentes através do voto.
Com o Acordo de 4 de outubro de 1992, Moçambique inaugura um novo tempo, que começa a produzir frutos com as primeiras eleições gerais de 1994. Instaura-se a ideia de progresso, com apoio financeiro de bancos internacionais como o FMI; desenvolvem-se indústrias, criam-se universidades. Contudo, emerge também o tribalismo, o regionalismo e a corrosão de valores fundamentais da Primeira República, como a valorização do bem comum. Inicia-se, segundo Severino Ngoenha, a “dollar cracia” — o amor ao dinheiro em detrimento do povo —, impulsionada pela descoberta de diversos recursos naturais. Instala-se uma liberdade de expressão disfarçada, que levou ao silenciamento de vozes dissonantes.
Nos últimos anos, vemos um país que continua a escrever sua história enfrentando desafios como o terrorismo, os fenómenos naturais — cheias, ciclones, secas —, fatores que têm contribuído para o retrocesso no desenvolvimento.

Entretanto, em meio aos problemas, sejam eles naturais ou políticos, este cinquentenário revela que Moçambique ainda é uma terra de esperança, graças ao elevado número de jovens, à riqueza dos seus recursos naturais e à vontade de muitos de tirar o país da condição de pobreza extrema, usando os próprios recursos que possui. E, mais ainda, podemos afirmar que, com a consciência coletiva despertada por Mondlane nas manifestações de 2024/2025, cresce no coração de muitos a convicção de que o país é património de todos — e não de alguns.
Assim, podemos afirmar que, em 50 anos, o país tornou-se palco de um novo despertar: o de 1975, que deu origem a uma nação ainda frágil; o de 1992, que reconheceu, ainda que timidamente, o valor da diferença e do outro; e o de 2024/2025, que acreditamos ter resgatado o verdadeiro sentido da palavra democracia — transformando-a num valor precioso para a construção de um país diferente nos próximos anos.


