Moçambique: Missionários alertam para «grande destruição» de novos ataques terroristas em Cabo Delgado

(AGÊNCIA ECCLESIA) – «O povo está novamente em fuga», lamentou frei Boaventura, do Instituto da Fraternidade dos Pobres de Jesus.

Foto: Fundação AIS

Vários missionários alertaram, através da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre (AIS), que, na região moçambicana de Cabo Delgado, os grupos armados estão novamente ativos e atacaram várias aldeias, “com muita destruição e muita gente em fuga”.

“Houve ataques em várias aldeias no posto administrativo de Mazeze, queimaram casas, queimaram a escolinha, fizeram uma grande destruição. O povo está novamente em fuga, saindo do distrito de Mazeze e das aldeias ao redor para o distrito de Chiúre”, disse frei Boaventura, missionário do Instituto da Fraternidade dos Pobres de Jesus, à AIS.

Na informação enviada hoje à Agência ECCLESIA pela fundação pontifícia, uma missionária leiga adianta que existiram “dois grandes ataques” onde “contabilizaram 21 mortos na aldeia de Nacuale, no distrito de Ancuabe, e um em Magaia”.

Em Cabo Delgado,  província do nordeste de Moçambique, vive-se “um drama humanitário que atinge a todos, não apenas os cristãos”, adiantando que circula a informação que “houve num grande recrutamento” de terroristas nos últimos tempos, realçou a missionária.

“Em Cabo Delgado continua a travar-se uma guerra terrorista. São semeadas destruições e mortes violentas, a continuação deste desumano sofrimento é inaceitável e frustra o sonho de sermos uma nação de paz, concórdia e independente, justa e solidária”, disse o bispo de Tete, o missionário português D. Diamantino Antunes, numa mensagem enviada ao secretariado da Fundação AIS em Portugal.

A Ajuda à Igreja que Sofre salienta que a ameaça terrorista em Cabo Delgado “é muito preocupante”, a Igreja Católica tem sido “uma das vozes mais ativas na denúncia desta situação”, também para que a comunidade internacional não se esqueça destas populações que, desde outubro de 2017, “são vítimas dos grupos armados que reivindicam pertencer ao grupo jihadista Daesh”, o autoproclamado Estado Islâmico.

Em outubro, numa passagem por Portugal, D. Diamantino Antunes, bispo de Tete desde 2019, com 25 anos de vivência missionária em Moçambique, desafiou os responsáveis políticos a superar “interesses partidários” e alertou para crise persistente em Cabo Delgado, à entrevista conjunta Ecclesia/Renascença, emitida no dia 20 desse mês.

A Fundação pontifícia AIS alerta para a violência terrorista “imparável no norte de Moçambique”, quando as atenções no país lusófono estão nas “manifestações de contestação ao resultado das eleições de 9 de outubro”.

O mais recente relatório da Fundação Ajuda à Igreja que Sofre sobre liberdade religiosa, intitulado ‘Perseguidos e Esquecidos? Relatório sobre os Cristãos Oprimidos por causa da sua Fé [2022-24]’, publicado no dia 20 de novembro, identifica que, no início deste ano de 2024, se verificou “um recrudescimento dos ataques do autoproclamado Estado Islâmico em Moçambique”; “as redes sociais do EIM [Estado Islâmico de Moçambique] realçaram a dimensão religiosa” com a divulgação de imagens de igrejas destruídas pelas chamas, diversos símbolos cristãos “incluindo crucifixos”.

Desde 2017, acrescenta o secretariado português da AIS, os ataques armados já causaram mais de cinco mil mortos e mais também de 1 milhão de deslocados internos, em Moçambique.

CB