(Norma Azarias, Seminarista de Teologia da SMBN) – O seminarista moçambicano Norma Azarias, estudante de teologia no Seminário de Valadares, partilha connosco um pouco da sua experiência pessoal de envio missionário para a Paróquia de Maria Auxiliadora de Pemba, onde realizou, em 2023, o seu Estágio Intermédio de Formação Missionária.

Quando somos enviados para um determinado lugar – que é novo para nós – vários sentimentos invadem o nosso ser de modo que nos sentimos incapazes de descrevê-los com profundidade, mas, quando são sentimentos positivos que nos encorajam a partir, com entusiasmo aceitamo-los para enfrentarmos a missão com firmeza.
Da mesma forma que sentimos o entusiasmo, as interrogações tornam-se como que imprescindíveis porque uma das coisas que conseguimos fazer com mestria é questionar com o intuito de encontrar sentido naquilo que iremos fazer. Deste modo, perguntei-me se era digno de fazer uma experiência missionária numa paróquia onde passaram tantos estagiários excelentes; no silêncio deixei o meu coração inquieto e curioso, tanto que queria ter um programa fascinante que pudesse trazer algo novo, mas que não poderia fazer sem antes conhecer a realidade para onde estava a ser enviado.

Depois das minhas primeiras semanas em Cabo Delgado, percebi que o campo missionário não é um lugar para carregar complexos de superioridade ou de inferioridade; não é lugar onde devemos agir como super-homens porque não o somos na verdade; não é um espaço para levantar asas porque nem as temos, mas é um sítio onde devemos humildemente colocar-nos no nosso devido lugar, em baixo, no chão e deixarmos a sabedoria da comunidade cristã levantar-nos e mostrar-nos que tipo de missionário ela deseja e espera de nós.
Na Paróquia de Maria Auxiliadora, na Diocese de Pemba, ensinaram-me curto e denso que só se pode construir a comunidade e viver-se a alegria do Evangelho, se todos formos capazes de partilhar os dons que Deus nos concedeu, porque quando partilhamos o pouco ou o muito de nós deixamos cicatrizes missionárias no coração das pessoas; e as cicatrizes são as únicas que vão gerar as lembranças, as saudades e o desejo dum reencontro.
Portanto, posso hoje afirmar com segurança que o estágio missionário ensina-nos a envolvermo-nos inteiramente com as pessoas e com a sua cultura; ensina-nos a dar o nosso coração, o nosso entendimento, as nossas mãos a todos quantos se aproximarem de nós. É lugar para percebermos que realmente Jesus torna possível o milagre do encontro com as pessoas que não estavam em nenhuma gaveta da nossa caixa de memória. E, findo, faz-nos questionar: quando é que esse milagre vai acontecer de novo? Só que, enfim, milagre é milagre. Cristo é quem pode tornar possível.


