(Eva Dias) – Pelo ofício dado em Tomar, datado de 14 de agosto de 1923, D. Teotónio Vieira de Castro não só estabelecia o objetivo primordial da publicação, como definia, em traços gerais, o programa do boletim, através do elenco de conteúdos.
Seriam «bem acolhidos: a) artigos que prestem subsídio á historia das Missões Religiosas das nossas Colonias, ou que orientem bem o serviço das mesmas Missões; b) informações ou correspondencias que digam respeito aos trabalhos apostolicos e patrioticos dos nossos Missionarios, e ao estado em que se encontram as Missões portuguesas, e ainda a outras, naquilo em que por ventura possam servir de modelo ás nossas; c) narrações de pequenos factos edificantes ou interessantes; d) noticias que sejam de interesse geral missionario ou da civilisação, e bem assim as que se relacionem com os usos e costumes dos indigenas e com a colonisação portuguesa», solicitando, ainda, o envio de «fotografias acompanhadas de uma breve explicação». Antes de concluir, traçava algumas linhas de orientação para os redatores: «os artigos devem ser muito breves, e as noticias ou informações devem ser dadas com toda a exatidão e, quanto possível, em poucas palavras», ressalvando que «nessa publicação não serão admitidas referencias politicas, insinuações pessoaes, ou qualquer outra cousa que possa ir ferir a caridade ou a justiça» e, para «esta publicação poder com mais facilidade observar as normas indicadas», iria nomear um censor responsável entre os membros do Instituto (p.9).
Na realidade, a publicação era herdeira dos Annaes das Missões Portuguezas Ultramarinas, boletim editado pelo Seminário das Missões de Cernache do Bonjardim entre 1867-1872, e dos Annaes das Missões Portuguezas, publicado entre 1889-1891, este dirigido pelo P. António José Boavida, superior no mesmo Seminário no período de 1885-1910. Na senda destas publicações surgiu, ainda que desprovido do teor religioso, o Boletim das Missões Civilizadoras, editado entre 1920-1925 pelo Instituto das Missões Laicas, a funcionar no mesmo local, dirigido pelo Dr. Abílio Correa da Silva Marçal. A notícia do lançamento de um boletim das missões católicas portuguesas foi, por isso, muito bem acolhida e saudada, como manifestaram D. João Evangelista de Lima Vidal, bispo de Vila Real, outrora superior do Colégio das Missões de Tomar, e o P. António Augusto da Cunha, secretário da Prelazia de Moçambique, cujas palavras de apreço foram publicados neste primeiro número do boletim.
Porém, as saudações passam discretas numa edição quase integralmente dedicada à comemoração do jubileu de D. Teotónio. À reprodução do retrato do prelado sucedem-se as cartas do papa Pio XI, com a nomeação para dirigir o Instituto das Missões Católicas Portuguesas e de bênção pelas bodas de prata episcopais, respetivamente. Os artigos e ofícios relativos ao lançamento do boletim introduziram uma breve pausa no tema, retomado logo de seguida nos artigos de homenagem, da autoria de prelados e figuras eminentes do episcopado português e da sociedade civil.
As páginas finais assumem um caráter informativo, com a publicação de legislação de interesse missionário, a notícia sobre a Missão de Santa Rosa de Viterbo de Malaice, no Chibuto (Moçambique), dados históricos sobre os Colégios das Missões de Tomar e Cucujães, os resultados dos exames dos alunos de ambos os colégios, acompanhados das fotografias de grupo, e o anúncio da Exposição Missionária Vaticana, a ter lugar em 1925. Por fim, duas páginas de publicidade encerram o número inaugural de O Missionário Católico.
Publicado na edição impressa de fevereiro de 2024.
