Para um renovado rosto da Igreja Missionária

(Pe. Luís Vieira) – Fala-se que muitos jovens estão deixando a Igreja. Porquê? Talvez, porque ela não é jovem. No interior, ela é autoritária, ritualista e fria. Nela não cabe a criatividade. O culto não é celebração da verdadeira fé e da vida, mas ritual convencional. O relacionamento é frio e hierárquico. A Igreja terá de ser profecia, sem desprezar ninguém, ou trair a sua própria missão. É preciso uma grande visão de futuro. Esta passa pelo Evangelho, sem apagar o Espírito que nos faz sair da letargia e complexos que tanto acovardam.

Foto: Sérgio Cabral

Hoje, a Igreja clama por radicalidade, transparência, simplicidade, alegria, futuro, espírito de pobreza, utopia. Há muitas vozes que tentam calar, mas há que não ter medo das consequências. É preciso o espírito das primeiras comunidades e do seu dinamismo. É uma torrente incessante que volta às fontes. É certo que endireitámos o leme com os ventos do Concílio Vaticano II, mas arriámos velas ante o vaivém da barca nostálgica do porto.

Sempre a tentação da segurança e do domínio que assedia obstinadamente a Igreja e as suas comunidades, mas a Igreja, quando sucumbe a esta tentação, deixa de ser Reino de Cristo, para tornar-se temporal, renunciando assim à missão de ser esperança e de ter consciência crítica. Temos de varrer certos atropelos, comportamentos selvagens, vandalismo em todos os campos da Igreja, por vezes, tão carentes de teologia e pedagogia que turvam a fé do povo.

Foto: Pe. Luís Vieira

A Igreja é chamada a uma renovação profunda. Necessita de uma séria revisão de vida e constante catarse penitencial. Somos povo peregrino e, talvez, os nossos pés estejam cobertos de pó, do pecado que encontramos no caminho da história.

A Igreja foi enviada ao mundo para salvá-lo. O mundo a ser salvo é o nosso mundo, de hoje, não de ontem, nem de amanhã. A Igreja deve encarnar-se num mundo que descobre novos modos de ver e sentir a vida. A salvação está no coração da história a precisar dos nossos passos firmes e corajosos.

Somos todos missionários duma Igreja em saída, absolutizando o Reino de Deus. Assim, é preciso constante renovação, sem medo ou imobilismo, mudança de mentalidade e não de fórmulas. A questão não é lavar o rosto, é transformá-lo. O Evangelho é paixão e grandiosidade. A Igreja é formada por comunidades dispostas a desarmar tendas e empreender a marcha a qualquer momento. Tudo isto deve ser feito com muito entusiasmo, utopia e superação, para ser consciência do mundo. Daí, deve ser renovada e renovadora, jovem e rejuvenescedora, porque a fé não tranquiliza, mas inquieta. A Igreja não pode ser só instituição, mas tem de ser carisma, sopro do Espírito, disponibilidade e serviço num rio vivo e inquieto. Que a fé vivida no provisório nos ajude a palmilhar a inovação da própria vida e missão numa renovação jamais cancelada.

Que este novo ano seja vida nova nas nossas relações mais humanas, respeitando a dignidade e a liberdade, servindo a solidariedade, a gratuidade, a paixão pelos pobres, porque todos iguais e irmãos. Demos as mãos ao novo, a uma nova cultura, aos novos sinais dos tempos, à nova linguagem, para uma nova interpretação dos homens.

Pés ao caminho, porque há muita montanha a escalar para chegarmos à seara madura que nos espera, para a alegria da ceifa e da missão.