(Pe. Sérgio Leal, pároco de Guetim e Anta) – No dia 9 de Outubro de 2021, o Papa Francisco inaugurava solenemente o percurso sinodal da XVI Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos com o tema: «Para uma Igreja Sinodal: Comunhão, Participação e Missão». Este caminho sinodal tem gerado um conjunto de oportunidades e resistências, abrindo novas perspetivas e rasgando novas janelas de esperança para uma Igreja que se procura situar no mundo contemporâneo como lugar de anúncio do Evangelho de Jesus Cristo.

Este Sínodo é já considerado, por muitos, como o evento eclesial mais importante depois do Concílio Vaticano II. Contudo, importa não olhar para este evento sinodal apenas como um sínodo sobre a sinodalidade, mas uma importante etapa de reflexão e projeção sobre a evangelização no mundo contemporâneo, como lugar de escuta da realidade concreta, para gerar uma decisão e projeção que responda aos desafios da realidade hodierna e à novidade permanente do Evangelho.
Depois de um longo caminho de escuta que começou pelas Igrejas Locais, nas suas mais variadas realidades, foram elaboradas as sínteses diocesanas, a partir das quais se redigiram as sínteses nacionais, que serviram de base para o documento da etapa continental. A partir das assembleias continentais e das suas conclusões, foi redigido o Instrumentum Laboris para a assembleia realizada em Roma em Outubro passado.
A Secretaria Geral do Sínodo, depois de apresentar o relatório de síntese desta primeira assembleia, pediu que o tempo até à assembleia seguinte, em Outubro de 2024, fosse um tempo de trabalho para aprofundar e desenvolver o caminho sinodal. A elaboração do documento de síntese desta assembleia foi desenhada de modo aberto e interpelador, propondo um novo aprofundamento e desenvolvimento. Cada um dos seus temas foi apresentado a partir do tríptico: convergências, questões a aprofundar e propostas. Deste modo, a Secretaria Geral do Sínodo propôs um caminho de escuta que ajudasse a desenvolver e consolidar cada etapa.

Este encontro internacional de párocos insere-se neste dinamismo, uma vez que, como afirmou o Cardeal Mario Grech, era importante, nesta fase do processo sinodal, escutar os párocos, tendo em conta que eles trabalham de modo direto com todo o Povo de Deus, na evangelização próxima e concreta junto das mais diversas realidades.
Eu fui surpreendido com uma chamada do meu bispo diocesano, convidando-me a participar neste encontro sinodal, representando a Conferência Episcopal Portuguesa, juntamente com o Padre Adelino Guarda, da diocese de Leiria-Fátima. A participação de padres portugueses contou ainda com a presença do Padre António Bacelar, pároco da diocese do Porto, a convite da Secretaria Geral do Sínodo.
A assembleia decorreu de 29 de Abril a 2 de Maio de 2024, em Roma. Os primeiros dias, de 29 de Abril a 1 de Maio, decorreram em Sacrofano, na Domus Fraterna. No dia 2 de Maio, os participantes dirigiram-se ao Vaticano, para o encontro com o Papa Francisco. Neste encontro houve oportunidade para colocar perguntas e escutar o Santo Padre, num discurso em tom coloquial e fraterno, apontando as prioridades e urgências do caminho eclesial na realidade paroquial.
Participaram neste encontro 193 párocos, de 90 países dos cinco continentes. Portanto, a primeira nota que posso sublinhar deste encontro é a catolicidade vivida. Desde os trabalhos de grupo, às refeições e momentos de convívio, era possível ouvir falar as mais diversas línguas, as mais diversas realidades sociais, culturais e eclesiais, bem como as mais diversas prioridades e perspetivas sobre a evangelização e a missão. Se algumas prioridades e âmbitos de ação eram partilhados de modo conjunto, outras realidades encontram realizações diferentes nas mais diversas geografias. A título de exemplo, enquanto no ocidente sublinhávamos a secularização ou a falta de vocações ao ministério ordenado, noutras geografias falava-se do elevado número de vocações e de um cristianismo emergente.
A metodologia de trabalho deste encontro foi a «Conversação no Espírito», que tem sido a metodologia usada neste percurso sinodal. O mais importante deste caminho sinodal não é o que cada um pensa, mas o que somos capazes de pensar em conjunto, discernindo aquilo que o Espírito Santo nos está a pedir aqui e agora. Esta metodologia de trabalho assenta no discernimento e na oração, procurando perscrutar aquilo que o Espírito suscita na Igreja, a partir da escuta e da partilha. Os 18 grupos de trabalho contavam com a ajuda de um facilitador que ajudava a conduzir os trabalhos, segundo a metodologia apresentada.

Os dias de trabalho eram intensos e muito preenchidos, mas ricos e fecundos na partilha e no encontro. O pequeno-almoço era servido às 7h e às 8h rezávamos a oração de Laudes para dar início aos trabalhos. Cada um dos três dias de assembleia em Sacrofano era orientado a partir de um dos temas do Relatório de Síntese: O rosto da Igreja Sinodal; Todos discípulos, todos missionários; Tecer laços, construir comunidade. Cada um destes dias começava com uma breve introdução sobre o tema dos peritos deste encontro: D. Pablo Virgilio David (Filipinas); Padre Benedict Ndubueze Ejeh (Nigéria); Mons. Tomáš Halík (República Checa); Padre Gilles Routhier (Canadá) e a Prof. María Lía Zervino (Argentina). A esta proposta introdutória seguia-se um tempo de oração pessoal onde cada um era convidado a pensar, à luz do Espírito, aquilo que pretendia partilhar no grupo. O Santíssimo Sacramento era exposto na igreja e os participantes escolhiam o lugar onde pretendiam fazer a sua reflexão. Uns dirigiam-se para a igreja, outros para o jardim ou para a mata. Este tempo era fundamental para situarmos o âmbito da nossa reflexão e da nossa partilha. Não era um debate de ideias ou um exercício académico, mas um tempo de discernimento a partir de Jesus, na força do Espírito, para que pudéssemos realizar a vontade do Pai.
Regressados ao grupo, a primeira etapa do trabalho era a escuta. Cada elemento do grupo, num período que não devia exceder os cinco minutos, partilhava aquilo que o Espírito lhe inspirou. Depois de um tempo de silêncio para acolher a partilha, cada um voltava a ter a palavra, mas agora num período mais breve, em que partilhava aquilo que ressoou em si de modo especial na escuta do outro. A este tempo de partilha a partir da escuta, seguia-se mais um tempo de silêncio. Finalmente, numa terceira etapa desta metodologia, passava-se ao «Construir Juntos». Nesta fase do trabalho de grupo, dialogávamos sobre o percurso realizado: as convergências, as resistências, as vozes proféticas. O objetivo não era recolher as opiniões da maioria, mas passar a escrito aquilo que o Espírito tinha suscitado em nós, naquele tempo de conversação. Deste percurso, que ocupava toda a manhã, emergia uma proposta do grupo para o plenário, que deveria ser entregue à Secretaria Geral. Da parte da tarde, tinha lugar o plenário dos grupos e havia tempo para intervenções livres que eram intercaladas com palavras de síntese e reflexão dos peritos. No final do dia, voltávamos ao grupo para enriquecer o nosso texto com as propostas que entendêssemos ser significativas e que poderiam aprofundar e consolidar a nossa proposta.
Não foi redigido nenhum documento síntese deste encontro, porque o objetivo era recolher as sínteses de cada grupo como mais um contributo para a elaboração do Instrumentum Laboris da próxima assembleia sinodal, em Outubro.

O último dia do encontro foi marcado pela presença do Santo Padre. O Papa Francisco respondeu a um conjunto de perguntas e deixou uma mensagem de estímulo e entusiasmo para a renovação da vida eclesial, a partir da realidade paroquial. No final desse encontro, o Papa constituiu os participantes como missionários da sinodalidade, para que possam, junto das suas dioceses e conferências episcopais, continuar este dinamismo sinodal, realizando encontros, segundo esta metodologia, para responder com ousadia e coragem aos desafios da missão. O Santo Padre enviou neste dia uma carta aos párocos do mundo inteiro, pedindo que as paróquias sejam lugares de exercício sinodal, através do reconhecimento dos dons e carismas que o Senhor suscita no Povo de Deus, levando a cabo processos de discernimento comunitário que promovam a fraternidade e a comunhão.
Que o caminho a percorrer, não impeça de olhar com gratidão o caminho percorrido. A sinodalidade é caminho, por isso, é urgente desencadear a nível local processos de discernimento que fomentem a participação e corresponsabilidade de todos. A valorização dos órgãos de corresponsabilidade e participação, bem como a criação de novas instâncias e processos de escuta, devem desencadear processos de decisão, onde a comunidade cristã é envolvida e se possa sublinhar que o sujeito de toda a ação eclesial é o inteiro Povo de Deus, na variedade de dons, carismas e ministérios.


