PÓRTICO | Missionários na Fragilidade

(Pe. Rui Ferreira, diretor da Revista Boa Nova)

Basta-te a minha graça, 
porque a força manifesta-se na fraqueza.

(2 Coríntios 12, 9)

Jesus Cristo, o Verbo Encarnado, que Se fez carne e veio habitar connosco (cf. Jo 1, 14), é, por excelência, o modelo do missionário na fragilidade, frágil com os frágeis, no qual se manifesta o poder de Deus. Ao assumir a nossa humanidade, assumiu também a nossa fragilidade. Deus teve a coragem da fragilidade. Por amor, fez-se frágil! No presépio, encontramo-Lo recém-nascido, totalmente desprotegido e desarmado.

No último mês, no hospital, o Papa Francisco uniu-se a Cristo sofredor, oferecendo-nos um autêntico “magistério da fragilidade”. O Santo Padre, que sempre pediu que rezássemos por ele, dá-nos agora, mesmo sem falar, esta preciosa lição “que nos responsabiliza no acompanhamento e no cuidado dos doentes, dos pobres e de todos os que sofrem” (Card. Tolentino de Mendonça).

Francisco tornou-se a nível global o expoente máximo da ética do cuidado contra a globalização da indiferença e a cultura do descarte que tratam as pessoas como coisas e os povos como “restos”. O seu magistério da fragilidade e a sua ética do cuidado chocam de frente com o egoísmo daqueles que tomam decisões que colocam em risco a vida de milhões de pessoas e ferem toda a humanidade. É o caso da saída unilateral dos E.U.A. da Organização Mundial de Saúde (OMS) e da suspensão das ajudas humanitárias do USAID que atingem milhões de pessoas carenciadas em todo o mundo.  

Tal como Cristo, muitos missionários e missionárias pelo mundo fora fazem-se frágeis com os frágeis, pois a misericórdia e a consolação de Deus foram-nos dadas, para que também nós possamos consolar aqueles que sofrem (cf. 2 Cor 1, 4). Na nossa fragilidade, somos chamados e enviados a curar e a consolar, dando de graça o que de graça recebemos (cf. Mt 10, 8). Só assim, a noite da dor se abrirá à luz pascal de Cristo crucificado e ressuscitado.