Sementes de Paz e Esperança

Foto: Rui Ferreira

Papa Leão XIV, Excertos da Mensagem para o  X Dia Mundial de Oração pelo Cuidado da Criação (1 de setembro de 2025)

Jesus usa com frequência a imagem da semente para falar do Reino de Deus e aplica-a a Si mesmo, comparando-Se ao grão de trigo, que deve morrer para dar fruto. A semente entrega-se inteiramente à terra e aí, com a força impetuosa do seu dom, a vida germina, mesmo nos lugares mais inesperados, numa surpreendente capacidade de gerar um futuro.

Em Cristo, somos (…) “sementes de Paz e Esperança”. Como diz o profeta Isaías, o Espírito de Deus é capaz de transformar o deserto árido e ressequido num jardim, num lugar de repouso e serenidade: «Uma vez mais virá sobre nós o espírito do alto. Então o deserto se converterá em pomar, e o pomar será como uma floresta. Na terra, agora deserta, habitará o direito, e a justiça no pomar. A paz será obra da justiça» (Is 32).

Estas palavras proféticas afirmam com força que, junto à oração, são necessárias vontades e ações concretas que tornem percetível esta “carícia de Deus” sobre o mundo. A justiça e o direito parecem remediar a inospitalidade do deserto. Trata-se de um anúncio extraordinariamente atual. Em várias partes do mundo, já é evidente que a nossa terra está a cair na ruína. Por todo o lado, a injustiça, a violação do direito internacional e dos direitos dos povos, a desigualdade e a ganância provocam o desflorestamento, a poluição, a perda de biodiversidade. Os fenómenos naturais extremos, causados pelas alterações climáticas provocadas pelo homem, estão a aumentar de intensidade e frequência, sem considerar os efeitos, a médio e longo prazo, da devastação humana e ecológica provocada pelos conflitos armados.

«Viver a vocação de guardiões da obra de Deus não é algo de opcional nem um aspeto secundário da experiência cristã» (Laudato si’, 217). Trabalhando com dedicação e ternura, muitas sementes de justiça podem germinar, contribuindo para a paz e a esperança. Por vezes, são precisos anos para que a árvore dê os primeiros frutos, anos que envolvem todo um ecossistema na continuidade, na fidelidade, na colaboração e no amor, sobretudo se este amor se tornar um espelho do Amor oblativo de Deus.A Encíclica Laudato si’ acompanha a Igreja Católica e muitas pessoas de boa vontade desde há dez anos: que ela continue a inspirar-nos, e que a ecologia integral seja cada vez mais escolhida e partilhada como caminho a seguir. Assim se multiplicarão as sementes de esperança, a serem “guardadas e cultivadas” com a graça da nossa grande e indefectível Esperança, Cristo Ressuscitado. Em seu nome, envio a todos vós a minha bênção.