Vínculos que não se Rompem

(Pe. Augusto Farias, Administrador da Boa Nova) – Há laços familiares que se quebram pela morte dum familiar, ou por causa de heranças, quezílias e de outros interesses pessoais. Mas, pelo contrário, há vínculos que se criam pela morte dum amigo ou familiar e que nunca mais se rompem. A morte não vem quebrar relações, mas fortalecê-las ainda mais. A morte não separa. Une o que não se conseguiu em vida.

O Pe. Lima a dar a comunhão a um doente, Moçambique, onde foi missionário, antes de Angola. Apesar do Pe. Lima e companheiros ainda não terem sido canonizados, fazendo fé na comunhão dos santos, podemos rezar-lhes pedindo a sua intercessão. Foto: SMBN

Também na Família Boa Nova, a morte de algum dos seus membros vem unir-nos ainda mais. E quanto mais significativa tiver sido essa partida, mais firmes serão esses laços de vida e de comunhão. Foi isso mesmo que aconteceu com a Alice e a Rosa de Chaviães, na morte do seu querido irmão, Pe. Manuel Armindo de Lima, assassinado em Angola.

Como se diz noutro lugar desta revista, no dia 3 de fevereiro de 1982, foi morto, em Angola, o nosso companheiro Pe. Lima, quando ia com outros catequistas em missão evangelizadora. Tornou-se o primeiro mártir da Sociedade Missionária. Decidimos, por isso, celebrar na sua terra natal, Chaviães, Melgaço, os 40 anos do seu martírio. 

Cartaz alusivo à celebração dos 40 anos do martírio do Pe. Lima, em 2022, na sua terra natal, Chaviães, Melgaço. Foto: SMBN

É claro que esse acontecimento foi imensamente doloroso para as suas irmãs que o amavam de todo o coração. Até gostariam que o seu corpo tivesse vindo para junto delas. Mas compreenderam que ele pertencia a Angola com quem fez um “pacto de sangue”, no dizer de D. Zacarias Kamuenho, bispo do Sumbe, no dia do seu funeral. Quando estivemos em Melgaço para preparar a celebração desta efeméride, fomos recebidos pela Alice e pela Rosa, e pelos seus maridos, como membros da sua família. Fomos para elas a presença do seu irmão. Ou seja, os laços familiares alargaram-se. E também nós nos sentimos em casa, como membros desta família. 

Esta celebração não deve ficar apenas no âmbito da família e da paróquia. É um acontecimento que envolve toda a Família Boa Nova, pelos laços que nos unem nesta causa comum. A morte do Pe. Lima veio unir-nos também à sua família de sangue. E este vínculo une toda a Família Boa Nova à família Lima, que nos deu o seu irmão para a missão evangelizadora. Saímos todos mais fortalecidos, porque sabemos que o Pe. Manuel Armindo Lima e os seus companheiros de martírio, hoje, intercedem por nós. Estes laços fortalecem o nosso compromisso missionário, porque cremos que temos no céu grandes intercessores, e, ao mesmo tempo, são um grande estímulo para, como eles, darmos a nossa vida ao serviço do Reino.

Venho convidar toda a nossa Família a unir-se a esta celebração. Quem puder passar pela Vila de Melgaço, entre 1 e 6 de fevereiro, poderá visitar a exposição alusiva à vida, ministério, martírio e glória do Pe. Lima. Será uma forma de fortalecermos os laços familiares entre nós e, sobretudo, de participarmos na comunhão dos que nos precederam na fé. O Pe. Lima e companheiros ainda não foram canonizados, mas podemos rezar para que venham a sê-lo. Por isso, quem não puder ir até ao Alto Minho poderá, pelo menos, rezar-lhes para que intercedam por nós e para que chegue o dia do reconhecimento da sua santidade. Espero que esta exposição venha depois para o Seminário de Cucujães onde vai ficar à disposição de quem a desejar visitar. Acredito que este acontecimento vai ser um grande tempo de graça para toda a Família Boa Nova.